Créditos da imagem: Reprodução Gazeta Esportiva
Não é preciso ir muito longe, viajar no tempo. Basta uma olhadinha rápida sobre o que foi acontecendo na carreira de grandes jogadores, que, com a idade, foram perdendo um pouco do fôlego, diminuindo a velocidade nas pernas, mas, para compensar, ganharam mais experiência, passaram a usar os atalhos, tornando-se preciosos em outras funções no campo.
Basta recuar até Nilton Santos, apelidado, com justiça, de “A Enciclopédia”. Nilton Santos era lateral pela esquerda e com o tempo foi levado para a quarta-zaga, onde se corre menos e se pensa mais. Se tem melhor e maior visão do campo. Não por coincidência, aconteceu o mesmo, agora pela direita, com dois dos maiores laterais que se viu por aqui: Carlos Alberto Torres e Leandro… E ainda teve o Altair, no Fluminense.
Quem joga pelas laterais do campo, joga numa faixa estreita e a ela se limita. Se apenas marca, pouco avança, pouco ajuda o time. Se além de marcar, ataca, vai à frente, corre mais, é claro, e precisa ter juventude para tanto. Ainda assim, será um jogador escalado para coadjuvante, não para protagonista. Ajuda, mas não cria.
Quando o lateral de nascimento evolui a ponto de se exigir, com seu futebol, posto de estrela, de protagonista, capaz de ser mais que um marcador, destruidor de jogadas, para ser um criador, trabalhando mais diretamente na evolução do time, os técnicos inteligentes o deixam com o mesmo número na camisa, mas criam esquemas que lhe dão liberdade. Joga solto e tem cobertura. É assim que joga Marcelo, no Real, e que atuava Daniel Alves no Barcelona.
Não se amarra numa lateral quem sabe jogar. É desperdício. Que passa a ser também financeiro, quando se paga -no caso específico de Daniel Alves- uma fortuna de salário. Nunca me ocorreu -e escrevi de cara na minha rede social- que pudessem contratar Daniel Alves pensando colocá-lo na lateral: pelo preço pago, pela idade, por sua categoria e pela carência do time. Cheguei a brincar com isso.
Estranhei quando, antes do jogo contra o CSA, li que o presidente do São Paulo teria dito que esperava ver Daniel Alves na lateral, e não pelo meio, como vinha sendo escalado, e fiquei estarrecido, quando, ontem, vi que jogaria na lateral. Mais, vi que não apenas o presidente, mas parte da imprensa fazia a mesma cobrança.
Pior, só mesmo ver que o técnico escalou seu camisa 10 na posição que ele, há muito, por esquemas, deixou de verdadeiramente jogar. E, no final, após um melancólico empate, vir a discussão sobre o tema. Pagar uma fortuna para um lateral (e o técnico acompanhar o que diz a imprensa para escalar seu time) é o fim da barranca do rio.