Créditos da imagem: Montagem / No Ângulo
Agiu corretamente, ainda que a contragosto, a diretoria do Minas Tênis Clube ao suspender e demitir o medalhista olímpico Maurício Souza. Sua primeira mensagem, isoladamente, poderia ganhar o benefício da dúvida como possível protesto contra a possível finalidade lacradora de personagem bissexual – assim como, no cinema, os filmes “pra ganhar Oscar” têm que preencher cotas impositivas. Mas a seguinte, sobre “certo e errado”, deixou claro que se tratava de considerar “errado” ser gay ou bissexual. O pior veio com a “retratação”, feita onde tinha muito menos seguidores e na linha do “desculpem se alguém se sentiu ofendido” – como se fosse culpa deste último. Bem feito.
Portanto, andou bem o vôlei ao manter seu posicionamento a favor do respeito. A presença de atletas gays, inclusive em seleção, acaba com a história de que não cabem atletas de sexualidades diversas no mesmo vestiário. Nem adianta dizer “ah, mas o vôlei tem gente mais esclarecida!”, pois temos visto uma ala de atletas negacionistas convictos (e mentirosos) nesta pandemia – também incluindo medalhistas. Neste contexto, é de se perguntar sobre os avanços do futebol nesta área. Sim, foi um primeiro passo interessante a proibição do “bicha” na cobrança de tiro de meta. Teve chiadeira inicial, mas passou. Porém, é curioso como se tornou aceito, inclusive por lacradores, chamar jogadores e torcedores são-paulinos de “bambis”. Não raro com sugestões hipócritas de o clube “adotar” o personagem como mascote.
No intuito de unir o SPFC ao herói da Disney, usou-se o exemplo do Palmeiras e seu porco. Só que a iniciativa partiu da própria torcida, não do clube. Assim como os torcedores rubro-negros abraçaram o urubu. Além disso, a alusão ao veado (ou “viado”) nunca foi do agrado homossexual. Se nem a chamada comunidade LGBTQIA+ o quer, por que a torcida do São Paulo (ainda mais como suposta defesa gay)? Se a ideia fosse agradar à causa, o último símbolo positivo a adotar seria esse – que, aliás, ainda é heterossexual em suas histórias. A verdade é bem outra: fazendo-se de engajados, articulistas não-tricolores quiseram oficializar mascote de duplo sentido, lançando o São Paulo sozinho na “vanguarda” para uma esdrúxula legitimação da zoeira. Que tal se defendessem o Bambi usando camisa de todos os clubes brasileiros? “Ah, veja bem…”.
É diferente de um caso envolvendo a seleção brasileira. Podendo inscrever mais três atletas para a Copa América, a CBF (com a conivência de Tite) pulou o número 24 da numeração oficial. Neste caso, o inconformismo foi pelo fator inverso: ao se deixar de fora o número do veado no jogo do bicho, ratificou-se o animal silvestre como símbolo gay. Por isso a exclusão foi vista como ofensa. A ideia do processo judicial não foi usar o eventual camisa 24 como ícone, mas dizer o contrário: 24 é um número como qualquer um, veado é animal como qualquer outro e nenhum dos dois têm a ver com o que se faz na cama. Já o Bambi mascote foi sugerido justamente para dizer que 24 não é qualquer número, veado não é qualquer bicho e os dois têm a ver, pois sim, com a intimidade alheia. Chegou a hora da decisão: será que ele é?
Mais plural foi o caminho de clubes que usaram o arco-íris no uniforme para expressar apoio à diversidade. Não que tenha escapado de controvérsias entre atletas, mas faz parte do processo de debate e amadurecimento. Todos os times deveriam ter iniciativas eventuais como essa, sem usar símbolos e mascotes indesejados pelos defendidos. Não porque um lacrador mandou, mas por ser uma ideia que incentiva harmonia e entendimento. Melhor todos participando de algo sutil que uns poucos sendo patrulhados e outros “dando a maior força” em silêncio. Palavra de ordem? Só contra os sonsos. Que estes se danem!