Créditos da imagem: Benoit Tessier / Reuters
Modric não é o melhor jogador do mundo. Nunca ouvi dizerem que é. Foi considerado o melhor da temporada. Para a crônica esportiva brasileira é um mistério entender isso, porque se limitam a ver melhores momentos e gols. Se alguém fala que um jogador é o motor do time, imaginam um volante que pega a bola atrás e a conduz até o meia-atacante, enquanto o adversário todo se recompõe. Modric tem seus gols e passes decisivos, mas o que o diferencia é dar equilíbrio à equipe. Ora cadencia, ora solta rapidamente ao ataque. Algo que nossos comentaristas menosprezam, acostumados a ligação direta e a tal “segunda bola”. Nesta visão pobre de futebol, Modric, Kroos e até Arthur são mais ETs que Messi e Cristiano Ronaldo.
A estranheza já ocorrera no final da Copa do Mundo, quando o croata foi eleito contra o fenomenal Mbape. Em mais de uma partida, as transmissões nacionais o consideraram apagado em campo, porque não foi “protagonista”. Modric não é protagonista. Mas quantos filmes não tiveram o coadjuvante ganhando Oscar, em vez do astro canastrão? A Croácia nem isso tinha. No máximo, o dedicado Mandzukic. Foi preciso uma coesão que jamais teria chegado onde chegou sem a dupla de meio-campistas Modric e Rakitic. Não foi, é verdade, o melhor desempenho técnico de sua carreira. Mas é cada vez menos provável que um jogador top tenha, na Copa, uma atuação entre as dez melhores da carreira. Chegam à competição desgastados, assim como os companheiros. É muito mais uma prova de adaptação e resistência, que de excelência futebolística.
Cristiano Ronaldo reclama que teve uma ótima participação na Champions League, com mais brilho que Modric. Primeiro, vamos lembrar que o gajo pouco apareceu nas semifinais e na decisão. Foi artilheiro com todos os méritos. Porém, dentro das respectivas funções, o croata foi mais constante. Numa disputa imaginária, poderíamos dizer que Cristiano chegou com uma ou duas curvas de vantagem. A estreia na Copa parecia indicar um aumento da distância, mas depois a participação do luso não foi menos melancólica que a do eterno rival Messi. Já comentei que, nos jogos da eliminação, a única diferença foi a expressão facial. O argentino parecia rumo à cruz e Ronaldo se entregava a risos nervosos, enquanto era controlado pela defesa uruguaia. Foi assim que, mesmo sem ganhar a prova ou dar volta mais rápida, Modric assumiu a liderança.
O pós-Copa deixou as lembranças mais confusas porque, enquanto o Real Madrid está com problemas, Cristiano se destaca na Juventus. Mas este trecho do ano não faz mais parte do período de observação para o The Best e a Bola de Ouro. Se fizesse, o craque argentino já mereceria um pódio, pelo que vem fazendo desde agosto – talvez mordido, talvez em seu habitual sem a nuvenzinha da seleção em cima. Modric não deverá disputar o prêmio em 2019. Talvez nem seja um dos cinco primeiros. Nem por isso ficará “provado” que a escolha deste ano foi injusta. É muito difícil, no futebol cada vez mais histérico por estatísticas e protagonismo, um elemento de apoio ser o herói por mais de um roteiro. Tanto poderemos ver o desempate entre os pentas, ou enfim outro protagonista premiado – incluindo Neymar, ainda o principal jogador do PSG. Minha pergunta é: e daí?
A maior utilidade dos prêmios a Modric seria, a meu ver, o grande público deixar de lado esta bobagem. Seja melhor jogador do mundo, seja melhor do ano, não passa de uma breguice de uma entidade e uma revista cujas opiniões são, como diria um amigo, tão importantes quanto buzina de avião. Felizmente, em termos relativos, Neymar não chegou nem perto de ganhar – nem poderia, por tudo o que já foi comentado. É uma chance de, ao menos por alguns meses, recordarem que no futebol quem vence é o time. No dia em que torcedor sair comemorando prêmio individual de jogador, é hora de trocar de esporte.
Ótima análise, muitos já estão considerando o atual mau momento do Modric e esquecendo que a avaliação levou em conta a temporada passada.