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Ganha força através da ação coordenada de clubes, atletas, políticos e empresas especializadas em gestão esportiva a criação da lei que permitirá aos clubes de futebol deixarem de ser associações sem fins lucrativos em empresas
Trata-se de uma evolução necessária. O maior mal que aflige os clubes de futebol no Brasil atualmente é sua estrutura associativa, que os transforma necessariamente numa entida política.
Ao se estruturarem num modelo com eleição, grupos (partidos), candidatos, conselheiros (inclusive muitos vitalícios), o clube perde sua capacidade de organização e planejamento. Tudo que se dizia benéfico no passado, como a possibilidade de alternância de poder e voz aos sócios, hoje é sinal de anacronismo.
Não basta mais olhar os próximos 3 anos, mas sim os próximos 7. Mais que o prazo, o olhar e as ações precisam ser pensadas e consistentes. Uma das diferenças fundamentais entre o modelo atual e um onde o clube seja empresa é justamente não iniciar um mandato já olhando a próxima eleição, e os acordos necessários para se manter no poder.
Ao mesmo tempo, não podemos acreditar cegamente que a simples mudança de associação para empresa vai mudar o clube da água para um bom brunello de montalcino. Não é e nunca foi a nomenclatura, mas sim as atitudes. Entretanto, “atitude” é só uma palavra bacana que isoladamente não significa nada para o momento. Para garantir que um clube passe a ter uma gestão pragmática, transparente e equilibrada é preciso que haja regras claras de governança, que permitam aos gestores tomarem decisões sem se prenderem a demandas políticas, ao mesmo tempo em que sejam devidamente cobrados quando algo sai muito fora do planejado. Como em qualquer corporação, como em qualquer negócio que fatura mais de R$ 100 milhões anualmente.
Alguns detalhes, lugar onde o diabo mora, são fundamentais na implantação de um modelo realmente profissionalizante como esse. O primeiro é ter a certeza de que precisa ser feito considerando nossas características. Na vida profissional, sempre que me deparei com premissas que consideravam desempenhos e mercados muito diferentes do Brasil, a aplicação nunca se confirmou realista. O Brasil tem uma cultura, peculiaridades, história e precisam ser respeitados. Não significa mais do mesmo, ou mera maquiagem, mas desenhar algo que seja aplicável.
Alguns exemplos nesse sentido são os uniformes e cores, a sede, os programas de sócio torcedor, dívidas fiscais e com estádios. Precisamos de um modelo que seja baseado nos que existem no mundo, mas adaptados à nossa realidade. Pensando nas dívidas, os clubes sociais deveriam permanecer co-responsáveis? A pensar.
O segundo ponto é garantir que os dirigentes atuais saiam do comando do dia-a-dia. Dirigente é do clube social, que será acionista do clube de futebol, que pode ter presença no conselho de administração, mas jamais comandar o negócio. Há que se ter uma clara divisão, que permita vida nova ao futebol, mas sem retirar todas as responsabilidades e ações do atuais “donos”.
Por fim, não menos importante é ter a certeza de que uma mudança como essa trará dinheiro e investidores, mas jamais deve ser o primeiro objetivo da lista de desejos. Estes virão, mas apenas depois de vermos implementados os modelos de governança e gestão e o afastamento dos atuais dirigentes. Sem uma ruptura com o modelo atual não haverá mudança real.
Aliás, quem também deve entrar nesse jogo são os patrocinadores, que deveriam cobrar que os clubes entrem de cabeça nesse processo. Ou os stakeholders aderem ou será apenas mais uma bala de festim, como foi o Bom Senso.
Este é um assunto chato, que tenho certeza que a maioria dos dirigentes não gosta, e quando tratam do assunto querem implementá-lo apenas pela ótica de ter mais dinheiro. Mas é fundamental e só terá sentido se feito de forma ampla e irrestrita.
Cirúrgico.
Precisamos disso pra ontem.
No Brasil, o status quo, a inércia, prevalecem!
Para o dirigente mal-intencionado, tá bom do jeito que tá!
Muito interessante!!!! Eu não sei qual é o melhor modelo, sei que apoio qualquer mudança que seja!!!!!!
O modelo proposto é semelhante ao de quais países, caro Cesar Grafieti???
O modelo ainda está em debate, mas ele nasce com uma cara própria. Haveria 2 tipos de ações: uma que nasce 100% com o clube social e outra 100% com terceiros, sendo que as dos clubes representam 50% + 1 ação. Este modelo parece o Alemão e o Português, sendo que o Alemão está em revisão.
Não gosto. Prefiro modelo onde o social tenha maior participação mas ninguém tenha controle, e tudo se resolva no conselho de administração. E o Social teria uma Golden Share para assuntos estratégicos (cor, sede).
Clubes esportivos (tradicionais) devem ser associações sem fins lucrativos por princípio. Foram criados por grupos de desportistas para representarem e congregarem determinada cidade, bairro ou comunidade e não para lucrar. Clubes empresa remetem ao artificial modelo norte-americano de ligas, com franquias itinerantes sem grande identidade com suas origens, sua região, seu povo. Exemplos de fracassos não faltam com clubes italianos, chilenos, portugueses, etc. No Chile o modelo das SAD afundou ainda mais os clubes e já é duramente combatido pelas torcidas. Em um momento onde diversos clubes brasileiros avançam para uma democratização que inclui seus sócios torcedores na vida política, uma proposta como essa seria um retrocesso gigantesco. O caminho é democratizar e tornar os clubes mais transparentes à comunidade que os sustenta (torcida) e não privatizar. Quem quiser ter seu próprio clube como uma propriedade particular que funde um, como já temos vários exemplos no Brasil (Red Bull, Audax, Coimbra, etc).
[…] fatos relevantes e controles mais rígidos. E isto está longe de ser supérfluo, pelo contrário. É esta governança que defendo para os clubes brasileiros, de forma que isso permita mais transparência e, consequentemente, maior interesse de investidores […]