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Sobre as complicações gratuitas e a real dificuldade de Tite neste estágio da seleção
Muito se está falando do linguajar rebuscado e peculiar de Tite, com termos prolixos e desinformadores. A simplicidade (não o simplismo) é marca dos brilhantes. O preciosismo é o disfarce dos enganadores. Tite não é enganador como treinador, mas tem falado como se fosse. Tenta se fazer de erudito, porém é o mesmo que soltou um tenebroso “se nós tivéssemos CHEGO” há alguns meses. Sim, está ERRADO. Não é porque o erro é repetido por mais pessoas que vira acerto, ou mesmo aceitável. É de doer o ouvido e destruir relacionamentos. Depois daquilo, não dá para considerar Tite mais culto nem que Joel Santana. Não há serpente que se encante mais. Ao menos uma serpente que prestou atenção na aula.
Não é apenas no futebol que o uso de termos inacessíveis gera críticas. Não se pensa duas vezes antes de detonar o chamado “juridiquês”. Resta definir o que é juridiquês. Deve haver humildade do leigo para não exigir ser, além de destinatário, o lorde da informação. Assim como um engenheiro ou um médico não têm que explicar pontinho por pontinho, o texto jurídico tampouco deve ser uma papinha. O problema é quando o abuso dos termos irrita até os bacharéis, tal a desnecessidade. O Titês se encontra no mesmo estágio. Fossem apenas os comentaristas de boteco os incomodados, que se danem. Aprender um pouco não custa nada. Mas você não vê, nos livros e entrevistas dos principais treinadores, o caminhão de neologismos para o que já tem definição. Isso, vindo de quem não aprendeu sequer o português coloquial correto, chama-se perda de tempo.
Há precedente, com final desanimador. Em 2000, já sem o mesmo encanto de quando assumira a seleção, Wanderley Luxemburgo (com W e Y) deu alguma explicação citando, sem maiores correlações, o “poeta francês Goethe”. Errou a especialidade – dramaturgo – e a nacionalidade – alemão. Seria ótimo se o técnico conhecesse a obra de Goethe. Genial, se ainda lograsse encaixar uma citação que ajudasse a compreender o assunto. Bem aplicada, cultura geral só ajuda. Não dá para dizer o mesmo quando a cultura não é tão geral assim, muito menos pertinente. Com ou sem pacto com o demônio, o Fausto de Madureira caiu em desgraça logo depois. Tite precisa se cuidar para não ter o mesmo destino. Não precisa tapear deslumbrados para atingir seus objetivos. Muito menos deve se deslumbrar com suas tapeações, como que dizendo “eu sou bom mesmo, tchê”.
O que fez o treinador se firmar como o melhor do país, chegando naturalmente à seleção (algo cada vez mais restrito, pois os melhores de outros países têm preferido clubes), foi o binômio desempenho-conquistas. Traduzindo: venceu e convenceu. Jamais desmereceu o futebol bem jogado. O oposto de um cara-de-pau que agora reclama da falta de jogo bonito, sendo que quando era técnico mandava ao teatro quem queria espetáculo – sob ridículos aplausos. Os times de Tite não marcaram pela absoluta beleza, mas por um jogo equilibrado e fluente que também agrada. Pois foi justamente a perda deste equilíbrio que complicou a seleção na Copa. O Brasil tinha os três melhores expoentes técnicos pela esquerda. Facilitou a vida dos adversários, a ponto de o técnico belga ter percebido que podia marcar com sete, tal a fragilidade ofensiva pela direita. Só no desespero isso mudou. Tarde demais.
Com quatro anos para trabalhar, o que se faz necessário é reconstruir o que foi falho e combinar as correções com o que funciona. Também traduzindo: corrigir o ruim sem estragar o bom. A Copa América ajudará isso em parte, mas seguirão em falta os jogos contra os europeus – que não vencemos em jogo eliminatório de Mundial desde 2002. No máximo, uns poucos amistosos, nem sempre jogados pra valer pelo adversário – até para não dar ao rival o que ele quer. Será contornar estas dificuldades que decidirá seu sucesso ou seu fracasso. Não precisa complicar mais que isso. Muito menos deixar a gramática fora até do banco.
[…] última coluna mencionou a falsa cultura e os neologismos supérfluos de Tite. Faltou falar do outro lado: o […]