Créditos da imagem: Lance!
Toda semana surgem novos temas no debate do futebol. Infelizmente, para cada tema interessante e útil existem dezenas de discussões completamente desnecessárias, seja porque não tem aplicação prática, seja porque não atacam e resolvem nossos reais problemas. Talvez porque os jornalistas não os conheçam, não os entendam ou não tem interesse em falar sobre eles.
Na última semana vi dois debates isolados mas que no fim do dia se cruzam: um deles falava sobre a pouca qualidade técnica dos atletas que atuam no Brasil e cometem erros técnicos básicos. O outro ia mais longe e discutia se no Brasil não deveríamos ter menos times jogando na Série A do Campeonato Brasileiro, uma vez que jogos entre times menos qualificados eram ruins.
O grande problema da imprensa levantar temas como estes é que eles são o efeito, o que se observa em campo, a cada rodada. Mas como tratar a causa? Será que todos sabem quais são as causas que os levam a chegar a estas conclusões?
Dizer que os atletas que atuam no futebol local são de baixa qualidade já é algo que se diz há muito tempo. Mesmo que a cada ano surjam talentos que mostram nossa imensa capacidade de produzir atletas de futebol – o que é diferente de formar atletas de futebol, pois eles surgem aqui e a cada dia vão embora para a Europa mais jovens para fazer sua real formação – fica sempre a sensação de que os que aqui jogam são menos talentosos. Daí, passamos a ver qualidades em quem fica e nos acostumamos com o jogo que se pratica pelos campos brasileiros.
É tudo verdade. Mas falta dizer que os atletas que ficam são de qualidade inferior porque os clubes mantém elencos profissionais remunerados de 40, 50 atletas e que muitos estão na folha de pagamentos mas emprestados para clubes menores, o que prova que quando chegaram não tinham condições de atuarem por clubes mais expressivos. Isto significa que os clubes gastam muito e mal na manutenção de elencos numerosos e de qualidade duvidosa. Naturalmente falta dinheiro para investir em menos atletas e mais qualificados.
Esta situação é responsabilidade direta dos dirigentes, que para fazer média com a torcida abusam do direito de contratar, mesmo sem critério técnico, mesmo sem avaliação que permita combinar necessidade com demanda do treinador. Basta que o dirigente, conhecedor de futebol, resolva trazer aquele lateral-direito que ele viu jogar duas partidas na Série B e o encantou, e pronto! Mais um na folha de pagamento. Pena que ele fez duas boas partidas apenas, seu time tinha uma avenida nas suas costas, ele é quase ala e o treinador já tem 3 outros laterais à disposição.
Este é um exemplo. Há os que o treinador erra na avaliação, ou também aquele onde o diretor de futebol contratador traz 10 para acertar 1. Em todos eles a realidade é nua e crua: o elenco fica inchado, o custo do futebol cresce e tecnicamente os clubes estão se transformando em entreposto de atleta ruim. No fim, responsabilidade de dirigentes que pensam apenas no curto prazo.
Mas então veio o segundo tema de debate daquela semana: a redução no número de clubes da Série A e redução também no número de rebaixados. A ideia, claro, é melhorar a qualidade do jogo. A tese indica que com menos times sobrariam apenas os melhores e consequentemente os jogos seriam melhores. E com menos descenso a pressão contra o rebaixamento diminuiria, permitindo jogos mais abertos e agradáveis.
Então, uma pena informar que na Europa as ligas também tem 20, exceto a Bundesliga que tem 18. E, a despeito das transmissões para o Brasil estarem centradas nos grandes times, lá também as partidas entre o Oitavo e o Décimo colocados são bem fracas. Porque nem todo mundo se chama Barcelona, Manchester City ou Juventus. E nem por isso cogitam reduzir o número de times para melhorar os jogos. Nem reduzir o número de rebaixados para salvar os grandes, uma vez que os grandes de verdade jamais se enamoram da zona de rebaixamento.
O problema é não questionar a origem dos jogos fracos. É ignorar que temos Estaduais longos demais, que temos clubes profissionais demais, que temos competições com premiação elevada e que se sobrepõem, fazendo com que os clubes vejam mais chance de título numa Copa que num campeonato longo, o que é uma prova de que o rabo está abanando o cachorro. E que o planejamento de hoje continua o mesmo dos anos 90, ou seja, organiza-se a equipe para os mata-mata e seja o que Deus quiser.
Mas é sempre mais fácil dizer que nossos jogos e atletas são ruins, e ignorar o que os fazem ruins. Talvez porque não entendam. Ou porque dá trabalho discutir estes temas. Ou então é apenas uma forma de chamar atenção para o nada.
Como em todos os setores profissionais, há mais incompetentes que competentes.