Créditos da imagem: Daily Express
Nesta Quinta-feira tivemos o sorteio da UEFA Champions League (UCL) em sua temporada 2018/2019. Numa competição que já é um sucesso de crítica, público e finanças, basta repetir a fórmula para seguir liderando. Como é mesmo a brincadeira atual? Siga o líder, é isso?
Pois bem, enquanto na América do Sul a Conmebol resolveu “seguir o líder” e organizar uma final em jogo única na Libertadores de 2019, o líder inova já, mostrando que está alguns quilômetros à frente dos demais torneios. Mudanças ocorrerão nesta Champions League e valerão para as 3 próximas temporadas.
Vamos começar pelas mais relevantes, e a mais relevante é o dinheiro. Para o triênio que se inicia nesta temporada cada edição da UCL tem receita garantida de € 3,25 bilhões, quando o valor recebido até a temporada passada era de € 2,3 bi.
Ou seja, 40% acima do valor anterior. Deste dinheiro, € 1,95 bi (60% da receita da competição) será distribuído aos 32 clubes participantes, com a seguinte divisão:
• 30% (€ 585 milhões) de forma igualitária = € 15,25 milhões para cada clube participante.
• 25% (€ 488 milhões) pelo Desempenho, que será distribuído da seguinte forma: € 2,7 milhões por vitória e € 900 mil por empate na Fase de Grupos. Depois, cada clube que se classificar para as 8ªs de Final receberá € 9,5 milhões; para as 4ªs de Final receberá outros € 10,5 milhões; quem for à Semifinal receberá € 12 milhões; o vice-campeão receberá € 15 milhões e o Campeão será agraciado com € 19 milhões. Nessa brincadeira, sem contar o desempenho pela fase de grupos, o Campeão receberá € 66 milhões, ou algo como R$ 330 milhões, que é mais que as Receitas da maioria dos clubes Brasileiros. Mas um clube que chega às 4ªs de Final recebe apenas em Desempenho € 35 milhões, ou R$ 175 milhões.
• 30% (€ 585 milhões) pelo Ranking Histórica da competição. Ou seja, Real Madrid de cara já recebe uma bolada. Ou como se diz, “o rio corre para o mar”, e “dinheiro chama dinheiro”.
• 15% (€ 292 milhões) pelo chamado Market Pool, que é uma divisão pela “atratividade da marca”, o que naturalmente leva mais dinheiro aos blockbusters, como Real Madrid, Barcelona, Bayern, Juventus (agora com CR7).
Dá para estimar que um clube de ponta que for campeão e vencer todos os seus 6 jogos da fase de grupos receberá € 100 milhões, ou perto de R$ 500 milhões, que seria a maior receita do futebol brasileiro. Isso, sem considerar aspectos de marketing e o Matchday, mais conhecido no Brasil como Bilheteria.
Mas não fica nisso. Haverá algumas novidades para quem acompanha as partidas em casa. Os jogos foram transferidos das 20h45 para 21h00, para atender demanda da TV e do streaming (DAZN, empresa britânica que comprou os direitos entendeu ser melhor este horário), assim como 4 jogos na semana serão às 18h55, também para atender o streaming. Sim, DAZN é o Netflix do Esporte e chegou para mudar a cara desse negócio.
Além disso, os clubes poderão fazer 4 inclusões de atletas ao final da Fase de Grupos, sem restrições. Ou seja, mesmo que o atleta tenha atuado por outra equipe na Fase de Grupos poderá jogar pelo novo clube. Por exemplo, na temporada passada Philippe Coutinho poderia ter atuado pelo Barcelona após jogar pelo Liverpool. É uma forma de impulsionar a janela de transferências de inverno. Money!
Por fim, mas não menos importante, os treinadores poderão ter à disposição até 23 atletas por partida, contra os 17 da temporada passada. Aumenta a quantidade de reservas e possibilita mais opções aos treinadores, melhorando a chance de boas partidas.
Não é pouca coisa, e isso vai ajudar ainda mais os clubes europeus a fazerem dinheiro. Isso traz consequências claras, como ainda maior poder financeiro aos clubes que contratam atletas Brasileiros, fortalecimento das marcas europeias frente aos nossos combalidos clubes.
Aliás, um efeito curioso e ruim para nossos clubes é o que se passa na Premier League, a liga mais valiosa do futebol mundial. A revista FourFourTwo publicou matéria recente apontando que os clubes ingleses preferem contratar atletas brasileiros apenas depois de passarem pelo “teste europeu”, mesmo que isso signifique desembolsar valores substancialmente maiores.
Isto acontece porque os ingleses preferem observar os atletas brasileiros em ligas fortes e parecidas com a inglesa antes de contratá-los. Querem observar se os atletas são consistentes, se têm força mental, se são combativos e têm desejo de evoluir, coisas impossíveis de serem analisadas através de vídeo. E mais, como o Campeonato Brasileiro é um ilustre desconhecido para os europeus, eles não investem tempo vindo ao país para observar atletas, porque as contratações são feitas com avaliação do Manager e de acordo com as necessidades do clube. Daí, fica mais fácil observar atletas na Europa.
Ainda que paguem valores absurdamente maiores – Fabinho saiu do Vasco por € 400 mil e chegou ao Liverpool por € 43 milhões depois de passar por Rio Ave e Monaco – os ingleses preferem a segurança à aposta, tanto que dos 20 Brasileiros que jogam a Premier League, apenas 4 foram diretamente do Brasil para lá.
Isto significa que os clubes Brasileiros deixam de ganhar diretamente e acabam minimamente beneficiados pelo instrumento da solidariedade, como Internacional, que recebeu 5% pela transação de Alisson da Roma para o Liverpool. Mas jogar um campeonato mais fraco e sem repercussão atrapalha os negócios. Isto sem contar a necessidade de vendas anunciadas nos orçamentos dos clubes. Quem precisa vender tem menos capacidade de fazer preço.
O resumo da ópera é que passa ano, passa temporada e os clubes europeus se fortalecem, enquanto no Brasil ainda estamos pensando nas eleições dos conselhos deliberativos e em quem vai mandar nas piscinas do clube social. Futebol não é mais para amadores. Os clubes precisam entender isso logo, e não é falta de aviso.
Qual interesse que um “não brasileiro” pode ter atualmente pelo nosso Brasileirão?