Créditos da imagem: PSG
O Futebol é uma caixinha de surpresas, e também um campo fértil de teorias financeiras para justificar ações de gestão. Uma delas é a ideia de que contratações de atletas famosos ajudam a vender camisas, e estas camisas pagarão a conta.
Lenda urbana. E bastam algumas informações desencontradas e um valor astronômico para que estas lendas pareçam realidade.
Uma transação de € 222 milhões é representativa em muitos segmentos da Economia. Mas quando pensamos no setor de Entretenimento, este volume fica de certa forma “acomodado”, uma vez que alguns atores e atrizes podem receber valores próximos desse, dependendo da franquia ou mesmo de um único filme, pois além do cachê direto, ainda costumam ser negociados percentuais sobre a bilheteria.
O Futebol, de certa forma, remete ao conceito de franquias, como “Homem de Ferro”. Afinal, os contratos duram algumas temporadas, e o valor de aquisição de um atleta pode ser diluído ao longo do período, dependendo do “sucesso da bilheteria”, que além do financeiro direto, pode ser traduzido também como Títulos.
Desculpe desapontá-los, mas da mesma forma que não será vendendo máscaras do herói de ferro que os produores pagarão pelo trabalho de Robert Downey, Jr, a venda de camisas do PSG com o nome de Neymar nas costas não será a fonte de receitas a bancar a contratação mais cara do Futebol.
A maioria dos torcedores não conhece como funcionam os contratos entre fornecedores de material esportivo e clubes de futebol, e por isso costumam cometer um erro de avaliação, acreditando que um jogador seria capaz de impulsionar de tal forma a venda de camisas, que isto ajudaria a pagar a conta. Até a Imprensa embarca nessa, eventualmente.
Não é bem assim.
Os contratos entre Fornecedores e Clubes costumam ser uma combinação entre material (equipamento de jogo, como as camisas, calções, etc) e royalties, pelo uso da marca do clube. Estes royalties são calculados a partir de uma expectativa de venda de camisas. Por exemplo, pode-se considerar que o fornecedor venderá 10 mil camisas anualmente, por 5 anos, e por este volume paga um valor “X”. Se vender acima disso, o clube recebe uma fração do valor, pois não custa lembrar que do valor de venda nas lojas é preciso deduzir os royalties, a margem do lojista, custos de transporte, margem do fornecedor, custos de produção.
Ou seja, royalties são um percentual do valor total.
É um erro imaginar que o clube se apropria do valor total da venda nas lojas. Logo, não é possível fazer contas pensando nesse número.
Desta forma, quando lemos que “Em 6 horas foram vendidas 10 mil camisas do Neymar pelo PSG, a 100 euros cada, rendendo 1 milhão de euros”, é uma tentativa de induzir ao erro de acreditar que bastaria vender 2,2 milhões de camisas ao longo do tempo de contrato e o valor da aquisição teria sido pago, de maneira simplista e sem considerar custo de capital.
Neste processo, o lucro efetivo se dá apenas a partir de um número muito elevado de venda de camisas, pois o fornecedor pagou considerando o risco de venda; gastou e produziu considerando sua expectativa; e o clube só receberá algo adicional ao contrato se vender acima da quantidade pré-definida.
É provável que nem todos os clubes sigam esta regra, pois depende de tamanho, quantidade de negócios, ações adicionais. Imagina-se que Real Madrid e Barcelona, por exemplo, tenham contratos especiais, assim como o Bayern de Munique, que tem a Adidas como acionista. Atualmente, muitos contratos consideram apenas o material entregue, e os royalties são pagos apenas pelas vendas efetivas. Ou mesmo em outros esportes e modelos, como das Ligas Americanas, onde o contrato é assinado pela Liga para todos os clubes.
Enfim, o importante é lembrar disso, e na próxima vez que alguém justificar uma contratação porque “este jogador vai vender muita camisa”, torça para que seja um bom negócio esportivamente falando, porque financeiramente, vai precisar de outras fontes para se pagar.
Leia também: Menos, Neymar, menos. Mas menos você também, Cavani
Como é bom ter alguém “do ramo” para elucidar algumas questões que por vezes não alcançam o grande público. Show de bola! 😉
O que impede de que o número de camisas vendidas com o nome do atleta chegue à uma quantidade que só os royalties paguem o jogador? No caso do tipo de produção e distribuição de material esportivo que o Santos FC fez com a Kappa, por exemplo, ao ser todo o lucro do material vendido, e não só os royalties, não poderia as camisas de um jogador pagá-lo mais fácil?
A desmistificação do fluxo de caixa é pertinente, mas o que realmente importa nisso ninguém fala, o velamento da realidade de que quem produz a riqueza que paga esses astros do futebol são os bilhões de trabalhadores espalhados pelo mundo que produzem todos esses produtos com as marcas dos clubes e que vivem sob a mais intensa exploração do seu trabalho.
Vinícius, de uma camisa que custa R$ 200 nas lojas, o lucro de quem produz não é maior que uns R$ 30. A diferença é Custo, Margem da Loja, Logística, Royalties e Impostos.
Ok, mas o que impede que sejam vendidas camisas o suficiente que para 30 reais de cada uma não se chegue ao valor pago num jogador?
Oi, Vinícius!
Você acha que um jogador que custe R$30milhões a um time brasileiro é capaz de vender 1 milhão de camisas que custem R$200 cada???
Trinta reais por camisa é o lucro da empresa fabricante, não do clube. Como explicou o Cesar, esse só ganha um valor além dos royalties se for superado determinado patamar.
Muito bom, esclarecedor!!!!! Precisamos de mais artigos assim no Brasil, explicando as coisas!!!! Eu mesmo acreditava nessas reportagens que ficam fazendo!!!!!! Obrigado pela aula!!!!!!!!
[…] alguns ajustes deverão ser feitos além da venda de Higuaín. E a Juventus não imagina ficar rica vendendo camisas de CR7, mas sim reforçando sua marca de clube grande que quer vencer e buscar o melhor elenco para isso, […]
[…] que dirigentes e profissionais de marketing queiram explorar a relação do clube com seu torcedor, além da venda de camisas – conforme já mostrei em outras análise, os valores envolvidos são ba… – e da bilheteria, que são as mais óbvias. Há alguns anos surgiu a ótima ideia dos programas […]