Créditos da imagem: Cesar Greco/Ag. Palmeiras
Depois de muita confusão e expectativa, enfim Arouca estreia pelo Palmeiras neste sábado, contra o Capivariano, em partida válida pelo Campeonato Paulista.
Antes da análise futebolística, penso que vale a reflexão sobre todo esse imbróglio, o qual, acredito, muito tem a dizer sobre o atual mundo do futebol profissional.
Fazendo uma breve retrospectiva, lembremos que o Arouca foi revelado em 2003 pelo Fluminense, quando passou de uma promessa a uma realidade, tendo conquistado seu espaço nos cinco anos em que lá esteve desde que efetivado no time profissional. Valorizado, foi contratado pelo São Paulo em 2009, mas pouco rendeu pelo time do Morumbi e acabou sendo trocado no fim daquele ano pelo também volante Rodrigo Souto, à época no Santos.
Iniciando 2010 pela equipe da Baixada Santista, sob a batuta de Dorival Jr. e acompanhado das então promessas Ganso e Neymar, somados ao já consolidado craque Robinho, o volante jogou o fino da bola naquele time que encantou não apenas o torcedor santista, mas toda a nação brasileira, com um futebol que desde o Palmeiras de 96 não víamos em terras tupiniquins, já que goleadas acima de cinco gols e futebol ofensivo eram constantes e muitas vezes víamos torcedores de outros times assistindo aos jogos do Santos.
Contando com a sorte (afinal, não é sempre que você chega em um time que dá tanta liga como aquele Santos) e sua competência, Arouca conquistou inúmeros títulos com a camisa do alvinegro praiano e tornou-se um ídolo inconteste da torcida. A impressão que se tinha era de que, com as saídas de Neymar, Ganso e Robinho da equipe, Arouca havia se tornado o jogador-símbolo e mais querido entre os santistas. Não raro se ouvia da própria boca do jogador de que nunca havia sido tão feliz seja profissional quanto pessoalmente, afirmando que sua família adorava a cidade de Santos e que a todo momento sentia o carinho do torcedor nos locais por ele frequentados.
Isto colocado, falemos diretamente agora sobre o mote dessa coluna, ou seja, sobre a escolha do Arouca e o que o teria levado a trocar o Santos pelo Palmeiras.
É de conhecimento público o mau momento financeiro que atravessa a equipe santista, o que acabou acarretando em atrasos de três meses de salários ao elenco de jogadores (nem entremos no mérito dessa má administração da diretoria do Santos, que seria assunto pra sabe-se lá quantas colunas). Técnica e legalmente falando, a lei ampararia eventual decisão de jogador insatisfeito em procurar os seus direitos na Justiça, vez que, após o período de três meses, qualquer atleta pode ter seu contrato anulado sem o pagamento de multa.
E é aqui exatamente o “X” da questão. Em análise legalista, levando-se em consideração a letra fria da Lei, Arouca se sentiu lesado e foi em busca de outro clube que lhe pagasse em dia. Perfeito!
Perfeito? Em análise menos rasa, ponderando-se que, embora totalmente profissionalizado, a razão de ser do futebol ainda é a paixão, deveria o jogador dar as costas ao clube que “fez” efetivamente (claro, graças ao seu talento e seus méritos) a sua carreira? Que lhe deu reconhecimento e “status” de jogador de primeira linha? Que em sessenta meses (período entre 2010 e 2014), com salário milionário (e aqui ele está na dele, o mercado do futebol é inflacionado mesmo), o clube atrasou apenas os três últimos?
Detalhe: consta, em notícias veiculadas à época, que o jogador já havia pactuado com o Presidente então recém-eleito Modesto Roma Jr., de que os valores seriam quitados e que tudo havia sido regularizado. Ainda, para conter o “bafafá” sobre uma possível saída, Arouca chegou a escrever uma carta, por meio de sua assessoria de imprensa, com o seguinte teor: “Ao contrário do que relatado em alguns veículos de comunicação, o jogador não tem qualquer interesse de buscar rescisão de seu vínculo com o clube na justiça. Arouca reitera seu carinho pelo Santos, clube que se tornou sua segunda casa e com quem sempre teve uma relação transparente, e descarta essa possibilidade”, dizia o comunicado oficial.
No entanto, para surpresa de muitos, alguns dias após essa declaração o jogador acionou o clube na Justiça e o seu acordo com o Palmeiras já era dado como certo extra-oficialmente.
O que teria levado o agora ex-volante santista a isso? Um contrato melhor? Uma bonificação? Pressão de empresários, interessados em levar parte do bolo? Infelizmente, parece que um pouco de cada coisa.
E, com essa decisão, Arouca abre mão da idolatria no Santos (saindo pelas portas dos fundos, tentando se justificar em carta aberta à torcida que mais pareceu um pedido de desculpa cheio de remorso) e procura novos desafios nesse promissor Palmeiras.
Apenas para exercício de comparação, ainda que vislumbrasse um futuro melhor em outra equipe, não poderia o volante ter tido a postura do zagueiro Edu Dracena (procurou a diretoria sem agir por trás e sem dar falsas declarações), que acabou se transferindo para o Corinthians, maior rival do Santos e, ainda assim, continua com prestígio e respeito junto aos torcedores do alvinegro praiano?
Por fim, lembremos do ex-companheiro de Fluminense e contemporâneo de Arouca, Diego Souza, hoje no Sport Clube Recife (!), que possui uma carreira certamente recheada de bons contratos financeiros, mas, que pelo potencial do jogador, não deixou de ser frustrante em termos do que fora construído profissionalmente. Afinal, o que ele já fez? De onde é ídolo?
Não gostaria de soar utópico ou demasiadamente romântico, mas penso que, com ações como essa de Arouca, morre um pouco o amor do torcedor e, por extensão, morre um pouco o futebol.
E segue o jogo.