Créditos da imagem: Montagem / No Ângulo
Virou triste praxe, no Brasil atual, que as tentativas de trocar opiniões saiam truncadas até virarem palavras de ordem. Com a pandemia não está sendo diferente. O futebol passa por uma situação que seria tão simples se fosse tão simples. De um lado, uma variante que amplia os grupos de risco, inclusive podendo fazer males maiores a atletas – como o medalhista olímpico Bruno Schmidt, que passou dias em UTI. De outro, o temor de que, sem acompanhamento protocolar por meio da continuidade dos jogos, os atletas não tenham maturidade para se cuidarem sozinhos – vide Gabigol flagrado num cassino clandestino, aglomerando.
Para quem escolheu ficar longe do noticiário, vai um recado: a P1, variante vinda do Amazonas e disseminada pelo país, é mais perigosa que o coronavírus “original”. Transmite-se em maior monta e com carga viral muito superior. Aquela conversa ao ar livre, que antes pouco trazia de risco, traz mais chances de transmissão. A quantidade de internados sem comorbidades, ou abaixo de sessenta anos, disparou. É quase como se outra epidemia tivesse começado, sem que a anterior tenha acabado. O agravamento requer cautelas de todos, para que o cenário desta semana se atenue o quanto antes. Neste momento, todos podem se ver às voltas com um hospital lotado, sem estrutura para atendimento promissor. Incluindo, pois sim, os bem ou mal remunerados atletas de futebol. Mesmo que não tenham casos extremamente graves, o perigo de longas sequelas se ampliou.
Neste contexto, é perfeitamente defensável a decisão de alguns governantes, como em SP, de vedar jogos (ou mesmo treinos, em Santos) de futebol em seu território. Os protocolos de clubes não foram capazes, em menor ou maior monta, de excluir totalmente o contágio – o que só seria possível com uma bolha completa. Vendo que uma atividade não-essencial está potencialmente gerando casos e contágios, o Poder Público deve agir, independentemente dos efeitos econômicos. É o que, racionalmente, mostra-se adequado. Contudo, nem sempre a racionalidade pode prevalecer por completo, especialmente quando o fator humano pode sabotar o objetivo racional. Vamos encarar: minoria ou maioria, uma parte nada desprezível do mundo boleiro está longe de ser bem informada, quanto mais de se direcionar com base na informação.
Assim, boçalidades e falácias à parte, não se trata de uma escolha elementar. A possibilidade de a proibição causar mais contágios entre atletas, bem como familiares e o resto da coletividade, é notória. Há que se cogitar, consequentemente, a hipótese de uma solução intermediária que mantenha os atletas em regime disciplinar assistido, porém sem a mesma quantidade de jogos – nos quais o contato entre atletas de times diversos, bem como demais integrantes do evento, sugere maior probabilidade de contágio. Manter os treinos parece uma boa opção. Quanto às partidas, talvez se possa remanejar a tabela para antecipar jogos de times com proximidade geográfica, deixando maiores deslocamentos para mais adiante. E paralisando, pois sim, os torneios com jogos interestaduais. Os danos ao calendário seriam reduzidos e se chegaria ao estimado meio-termo.
Caso não se considere viável a ideia acima, pessoalmente defendo que prevaleça o elemento racional sobre o humano, de modo a suspender as atividades por tempo indeterminado. Caberia a cada clube, na defesa de seu patrimônio e de sua imagem, impor aos atletas a obrigação de se manter isolado, sob pena de punições financeiras e disciplinares. A pior alternativa é seguir como está. Simplesmente, e agora cabe o “simples” porque nossa sociedade precisa, em grau de urgência, de medidas que demonstrem que não dá para seguir como está. Ou então, enquanto a vacinação se estende por meses, teremos novas e piores variantes do nosso fracasso invariável.
Vinha acompanhando algumas das colunas e achando as opiniões bem sensatas, mas ainda não tinha lido tantas para julgar se era o padrão. Essa agora tá de parabéns pelo racionalismo e realismo – tão em falta no futebol, às vezes para o mal, e algumas poucas vezes para o bem.
Abs
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