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Daniel Alves chegou ao Morumbi sob aclamação e críticas. Aclamação pela forma física e técnica, ainda acima da média no forte futebol europeu. Críticas por força dos custos desproporcionais e por não ter vindo para a lateral. Daria seus primeiros passos como meio-campista. Ou seja: recebendo pelo que fez numa função, mas para atuar em outra. Para os custos, a justificativa de Raí foi que patrocinadores pagariam a maior parte. Para a mudança de função, o argumento foi que Daniel nunca foi apenas um lateral, de forma que poderia explorar toda a sua capacidade em outro setor. De todo modo, uma operação arriscada.
Passados cerca de um ano e meio, justamente na reta final do Brasileirão, os dois aspectos voltam às discussões. Há algumas semanas, com o São Paulo em grande momento e Daniel Alves se destacando, colocar gastos e função em xeque era desconsideração certa. Eis que 2021 começou e a vantagem despencou, com atuações muito ruins do camisa 10. Foram erros que resultaram em três gols nas duas derrotas. Contra o CAP, o erro no gol foi de Gabriel Sara (outro que não consegue mais render como antes), mas a participação de Daniel foi novamente irritante. Parecia até achar que a grama sintética tinha que se adaptar a ele, não o contrário. Paralelamente, uma matéria de Jorge Nicola assegurou que, além dos repentes de gestor (indicou Fernando Diniz), Daniel Alves é um dos grandes credores do clube: catorze milhões de reais.
Jorge Nicola está usualmente longe de ser um jornalista preciso. Contudo, até um economista de Banco Imobiliário pode deduzir que o São Paulo tem que estar devendo – e muito – ao atleta. Os tais patrocinadores nunca apareceram – o que não surpreende. Some-se a isso o prejuízo com as eliminações, mais o salgadíssimo restante da folha de pagamento. Por fim, a pandemia e as perdas de renda decorrentes. Tanto a operação financeira nunca fechou, que Raí nunca a explicou. Contava, como todo mau dirigente, que os resultados em campo gerassem interessados e afastassem reprimendas. Como se, ainda assim, a conta não viesse. Já veio, aliás, antes da Covid-19. Nem com a venda de Antony o clube teve dinheiro para se reforçar. Até Luciano veio numa troca despretensiosa. Muito mais sorte que planejamento. Entretanto, a situação econômica continua preocupando.
Em campo, o meio-campista Daniel Alves surpreendeu. Porém, desde logo se imaginava que o gosto por arriscar em seu campo (que já tinha que ser controlado em Barcelona) traria riscos na armação. Ademais, os adversários passaram a dedicar a atenção que não davam quando o SPFC era o time dos vexames. O esquema desgastante (ver coluna anterior) contribuiu para a lesão de Luciano e a queda de rendimento dos meias. Ainda assim, Daniel não é substituído e isso provoca o questionamento: não sai porque não deve, ou não sai porque cobra e por ter recomendado o treinador? Depois do piti da “ingratidão” de Diniz com Tchê Tchê, fica a suspeita de que a “gratidão” a Daniel (que nunca leva bronca) envolva constrangimento para tirá-lo. Nada mais inconveniente num momento difícil, em que parte da torcida já pulou a apreensão direto para o desengano.
Considerando isso, penso que a nova diretoria já deveria pensar em, independentemente da classificação final e do que Daniel jogar nas últimas rodadas, buscar um acordo amigável de rescisão. Ou então a tendência será prejudicar cada vez mais a montagem do elenco, pois a dívida vai cumulando juros e correção. Trazê-lo foi uma decisão ousada, com momentos em que parece valer a pena. Mas, racionalmente e mesmo esportivamente, foi irresponsável e prejudicial. O problema é que falar em rescisão é fácil. Obtê-la é que são elas. Não é culpa do atleta que o clube resolveu tratá-lo como onipotente. O combinado não sai caro. Ou melhor: sai muito caro…