Créditos da imagem: Miguel Schincariol / saopaulofc.net
Os leitores sabem que eu e minha persona Danilo Mironga somos críticos convictos de Fernando Diniz. Sabem também que estas críticas foram invariavelmente confirmadas pelos fatos. O trabalho de Diniz é um livro inacabado. Conceitos modernos, como saída de bola, são executados de formas nada ortodoxas, com mais riscos que proveitos. A articulação no último quarto é assumidamente não treinada, ficando relegada ao improviso. A recomposição e a colocação defensiva deram trocentas mostras de insucessos. Porém, o livro inacabado ganhou algumas páginas novas. Somadas à crença dos jogadores no conteúdo da obra, o São Paulo se tornou tudo o que os times de Diniz não eram: competitivo.
Há uma espécie de manual para anular o SPFC, como o Lanús mostrou brilhantemente em seu primeiro tempo no Morumbi. Mas executar este tutorial anti-Diniz parece ser mais difícil do que parece. Ao menos pelos 90 minutos em que o time, agora com jogadores que aguentam o tranco físico, não desiste de jogar – em metáfora cinematográfica, algo como Rocky Balboa levando bordoadas da vida e seguindo em frente. Mesmo nas derrotas para LDU e River Plate, com o adversário plenamente superior, o São Paulo insistia. Fez dois gols em Quito. Tentou até o fim em Buenos Aires, mesmo com a sensatez recomendando poupar esforços. Tanto fez contra o Lanús que obteve o resultado e foi castigado justamente ao celebrar antes da hora. Mesma situação contra o Fortaleza, quando um erro individual fez o treinador entrar em pânico e chamar o empate.
A persistência é a mesma dos reveses. A mudança é que, mesmo de maneiras bem estranhas, conceitos começaram a funcionar. A saída de bola já era feita até com atacantes, mas a quantidade de erros perigosos superava a de proveitos. Continuam entregando bolas (como no Maracanã), porém passaram a se recompor com rapidez. Nas ocasiões em que a bola passa da defesa, surgem espaços em lances rápidos. Muito graças à capacidade física de atletas como Luciano, Igor Gomes, Gabriel Sara e até o veterano Daniel Alves. Eles vêm conseguindo buscar jogo na própria área e se apresentar à frente sem se arrebentarem – mesmo com jogos quarta e domingo. Atletas como Pablo e Vitor Bueno, sem o mesmo pique, foram deixados para o segundo tempo. O SPFC titular, em todas as faixas etárias, corre sem parar como um bando de fanáticos. Por ora, no bom sentido.
Entre os defeitos ainda crônicos (como erros defensivos e falta de tabelas no ataque), alguns foram atenuados. Especialmente a “hora da pasmaceira”, quando a saída ou a retomada de bola não funcionam e o time precisa criar o lance por si. O SPFC passava até minutos tocando a bola a esmo, para encerrar a jogada com cruzamentos sem convicção. Jogou fora a inutilidade. Já que a jogada terminará em cruzamento, priorizou sua execução. Mais gente na área, mais capricho ao cruzar, mais precisão nas conclusões. Não há lateral brasileiro com um cruzamento tão forte e difícil de rebater como Reinaldo. Brenner e Luciano se colocam e se movem melhor que os marcadores. Na falta de tabelas, a equipe também melhorou a coordenação em enfiadas, como a de Sara para Brenner e a de Daniel para Luciano. No futebol doméstico, mais de uma jogada bem feita é olho em terra de cego.
Não é um jogo bonito. Possivelmente, considerando as eliminações sul-americanas, nem funciona fora do país. Mas só resta o Brasil. É onde ele se adapta. Inclusive porque muitos técnicos – e comentaristas – ainda acham que o SPFC é um time de iniciativa, não de espera (no caso de ontem, pelo surgimento de espaços). A rigor, não dá nem para assegurar que o próprio Fernando Diniz se deu conta disso – ao menos além do subconsciente. O tricolor surfa na desinformação. Algo que, por sinal, Rogério Ceni não tinha como desculpa após tantos enfrentamentos – e nenhuma vitória. O SPFC não se tornou favorito nem na Copa do Brasil, nem no Brasileirão. Só que vai disputá-los. Não como um baluarte do futebol, mas tampouco como um coiote prestes a cair no precipício. Claro que Raí fará pose de que já sabia. Só que falta de opção (fim de mandato) não é o mesmo que opção consciente.
Todavia, devo dizer que não é por esta razão que a assinatura de meus posts no Fórum O Mais Querido terá a inscrição GODiniz por um mês. O motivo foi o comportamento patético de comentaristas rubro-negros, que trataram o primeiro jogo como vitória moral e passaram a propagar teorias conspiratórias pró-tricolor. Anunciei que, caso o São Paulo vencesse por mais de dois gols de diferença, faria a homenagem ao meu constante criticado. Não deu para rolar um “stop the count!”.
PS – ao rubro-negro de nariz empinado que comentou a última coluna no site, dizendo que eu estava errado porque “todos os outros” garantiam que Rogério seria a cópia instantânea de Jorge Jesus, devo dizer: 1 – não foi por falta de aviso; 2 – caso ainda não tenham notado, eu sou mais eu.