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Ontem, no Facebook, li crítica a texto do colega de site Fernando Prado. O leitor reclamou de determinados formadores de opinião. O equívoco começou aí. Não existem “formadores de opinião”. Os fatos, pois sim, é que devem formar as opiniões sobre aqueles. A coluna é emissora de opinião, como todos podem ser na rede. O que a distingue de outras postagens é que, no ambiente em que é postada, seu autor tem a oportunidade de defender a opinião. Uma opinião bem emitida faz pensar. Ajuda a formar outras opiniões, mas apenas de modo periférico. Colunista não é doutrinador, muito menos oráculo.
Não é fácil falar de futebol. Especialmente por uma realidade secular: todos entendem deste esporte menos do que acreditam. Até quem trabalha nele. Por uma série de razões, o jogo é mutante e instável. Quando se encontra uma forma corrente de atuar, alguém já está pensando em superá-la. Algumas tentativas darão certo. Outras, muito errado. Não raro apostamos no sucesso da que dançou e no fiasco da que triunfou. Claro que, somando aprendizados, a tendência é que as bolas fora percam. Mas sempre pode dar zebra, por mais previdente que seja a opinião. Conhecer esta assertiva é indispensável, embora dela decorra o risco de surgirem dois opinadores maléficos: 1 – o que escreve o que dá na telha, já que errar “é normal”; 2 – o colunista bananão, que gasta linhas e mais linhas para se manter convictamente em cima do muro.
O bom colunista, com texto mais ou menos rebuscado, é o que evita ser um dos exemplos acima. Quem diz que “fala tudo o que pensa” não pensa no que fala. Quem tem medo de falar o que pensa, para não se comprometer depois, faz com que eu lembre uma passagem na Escola da Magistratura. Todos éramos recém-empossados. Certa vez, perante psicóloga e assistente social, houve quem quisesse mostrar que “sentiu o Teorema” mais que os outros. Comentou, talvez para comover, que ficou abalado quando se deu conta de que estaria sentenciando sobre uma vida. Nunca fui de “participar de aula”, porém confesso que nesta não aguentei. Levantei a mão e disse “mas o edital do concurso dizia que a gente ia ter que fazer isso”. Coluna não é sentença, mas as duas peças precisam mostrar que seu autor quer decidir. Do contrário, convém reler o edital.
Evidentemente, até por não ser uma sentença, a coluna não transita em julgado. O colunista tem a liberdade e o dever de seguir acompanhando o tema. Seja para reforçar sua convicção, seja para revê-la. Fazendo isso, encoraja leitores a seguirem o mesmo caminho, em vez de passarem décadas repetindo as mesmas coisas, como se fosse proibido mudar de opinião. Futebol não é religião. Nem religião é religião. Dogmas já foram mudados. Só um autêntico tonto não muda. Naturalmente, não estou glorificando outro exemplo negativo: o comentarista que troca de opinião como quem troca – espera-se – de roupa de baixo. Num dia, o time tem padrão de Champions League. Noutro, não serve nem pro campeonato paulista. Normalmente isso é preguiça de analisar além da superfície. Uma opinião bem fundamentada (em fatos no lugar de narrativas) não se dissolve como antiácido.
Para concluir, este texto não se destina a meus colegas de site, mas a quem lê as colunas. A ideia é destacar os pontos retro para que entendam não apenas a disposição dos colunistas para selecionar fatos importantes, como também a responsabilidade que eles têm. É muito cômodo ficar postando pra galera, perpetuando ignorâncias e curtindo as curtidas. Depois vem – ou deveria vir – o remorso por endossar versões que, desde o começo, davam pinta de conflitar com a realidade. Não porque “formou opiniões” erradas, mas por perder a chance de inquietar quem as formou por conta própria. É a maior traição que um colunista pode cometer. Cabe ao leitor não exigir ser traído.
Perfeito. Formadores de opinião só formam a opinião de quem não consegue ou tem preguiça de pensar.
Por mais que eu goste de determinado artigo ou colunista, formarei, concordando ou não com eles, minha própria opinião. Perfeito.