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Protesto da campeã: land of the free, home of the brave, but not that brave…
Megan Rapinoe é uma grande jogadora de futebol feminino. Tal como outras desta Copa, especialmente de sua seleção, levou o esporte a um patamar melhor. Ainda muito distante do desenvolvido pelos homens, mesmo porque estamos falando de mais de cem anos contra três décadas. Porém, já é bem superior ao tempo em que outras jogadoras reinavam. Como a própria Marta, cuja escolha ao prêmio da FIFA em 2018 se deu muito mais por memória afetiva que por desempenho. Megan Rapinoe tem todo o direito de se expressar e fazer suas escolhas. Pode deixar de encontrar o presidente dos EUA. Assim deve ser a terra dos livres. Megan Rapinoe pode ser um exemplo de liberdade. De coragem? Not so much.
Criou-se uma espécie de falsa polêmica nos dias de hoje. Acontece quando uma pessoa dá uma declaração aparentemente bombástica, mas sabendo de antemão que será muito bem recebida por quem a reverbera perante o público. Criticar e afrontar Donald Trump é piece of cake. Antes e depois de sua eleição. O apoio começa pela insinuação de que ele não foi eleito, pois teve menos votos que a adversária. Assim como George W Bush contra Al Gore. Mas estas são as regras eleitorais há mais de três séculos. O que fizeram para mudá-las? E por que não protestaram quando a única chance de impedir a reeleição de Bush filho era ganhar da mesma forma (menos votos e mais delegados) em 2004? Aí valia? Portanto, comecemos tirando esta molecagem do caminho. Donald Trump, com lovers e haters, foi efetivamente eleito para o cargo mais cobiçado do planeta. Isso é incontroverso.
Ninguém é obrigado a gostar do resultado de uma eleição. Ninguém é proibido de criticar simplesmente porque ele foi eleito. Faz parte da vida democrática. Está consagrado numa Constituição muito bem criada e aperfeiçoada. Porém, nem sempre a liberdade de expressão (não apenas em relação ao presidente) foi aceita. Em 1968, os atletas negros Tommy Smith e John Carlos realizaram protesto no pódio olímpico. Como é de conhecimento geral, fizeram a saudação pantera negra com luvas. A atitude foi muito mais massacrada que aplaudida, incluindo meios jornalísticos. “Não deveriam ter misturado esporte e política” – foi o decreto prevalente. Ambos sabiam as consequências deste ato. Inclusive, a esposa de um deles se matou como resultado destas consequências. Ter ido adiante em tal protesto foi, pois sim, um ato de coragem. A coragem de ir contra sem uma malha protetora.
Décadas se passaram. Hoje fazer protestos é aceito, inclusive em jogos olímpicos. Afinal o próprio país deixou de ir a uma competição como represália política. Hipocrisia tem limites. Ainda assim, não deixa de haver seletividade. Falar contra Trump, repito, é moleza. Vai haver uma Fox criticando, mas não faltarão NYT, CNN, John Oliver e companhia ilimitada para abrigar a valentia contra a opressão imaginária. “Se o Bicho Papão e o João Pestana passarem aqui, a gente dá pau neles!!!!”. São os mesmos que praticam algo tão ou mais detestável que o “mansplaining”: o “demsplaining” (de Democratas). Consiste em gastar programas televisivos e até especiais de stand up comedy doutrinando sobre por que Trump é horroroso, por que deve haver impeachment, etc… O espectador é tratado como um idiota que precisa ser seguidamente alertado. Não admira que o efeito venha sendo o inverso.
Pesquisas mostram que, mesmo com as polêmicas de dois anos e meio, a popularidade de Trump sobe. Sinal de que este tipo de cerco (circo?) não está funcionando. Gera até simpatia. O tipo de simpatia que se tem quando alguém vira alvo incondicional. Algo que, nos anos 1990, fez até com que eu comprasse um CD dos Engenheiros do Hawaii (que tinham passado de queridos a odiados pelo meio). Mas e se o presidente fosse o anterior e, por alguma razão lícita, Megan Rapinoe se recusasse a encontrá-lo na Casa Branca? Haveria a mesma boa vontade? Ou o exemplo de liberdade se tornaria uma “branquela racista e nojenta”? E não só nos EUA. O que integrantes de certos programas de TV e rádio brasileiros iam dizer? Provavelmente um deles diria o clássico “Não passo pano pra racista”. Igualdade de tratamento é tudo…
Sendo assim, sem desmerecer a liberdade constitucional de Megan Rapinoe, não posso colocar o adjetivo “corajosa” para definir sua atitude. É como caminhar sobre uma superfície de um metro de largura, a três metros do solo e com três redes de proteção. Algo que até eu, com meu medo de altura, faria até com saltos. OK, sem os saltos. Mas caminharia numa boa. É, com o devido respeito, como vejo a atitude da craque americana. Considero que ela fez muito mais pelo esporte jogando bola. Um dia esta competição será lembrada pela até surpreendente evolução no esporte. Não como, nas palavras de Danilo Mironga, a Copa do Lacre.
O típico sujeito anônimo, gordo, branco, velho gritando em defesa de um Mundo que ficou no século passado. Nas palavras de Janis Joplin: CRYYYYY BABBYYYYYYY!!!!