Créditos da imagem: Reprodução Capital News
As jogadoras fizeram mais que o esperado. Mas teria sido muito mais que o merecido. Não pelas atletas, mas pela realidade do futebol feminino no país, incluindo o falso apoio da mídia. A mesma emissora que transmitiu os jogos do Brasil é a que mui provavelmente dará de ombros para a final da Copa. Seu objetivo era apenas satisfazer lacradores nacionais, que tampouco perderão novos minutos assistindo às fases seguintes. Já conseguiram o que desejavam. Pegarão as entrevistas de Marta e a usarão para várias pautas. Nada mais. Próxima parada (bem mais diluída): Tóquio-2020.
Claro que a saída de cena da emissora não retirará o assunto das conversas. É a “melhor” parte da tradição carpideira esportiva. Neste ponto prevalece a igualdade de gênero. Uma eliminação brasileira em Copa masculina gera um festival de sugestões descompensadas. Não será diferente com as mulheres. Variações, só nas ideias. Começa por escolher quem teria a “obrigação” de melhorar o esporte no país. O governo? Não combina com tempos de defesa apaixonada – e lógica – de contenção de gastos. Então sobra a CBF, como já concluiu Paulo Vinícius Coelho em seu blog (leia aqui). Tome incoerência. Para os homens, os comentaristas defendem ligas independentes da Confederação, como lá fora. E como também é com as mulheres no exterior. Por que deveria ser diferente com as daqui? PVC não explica. Nem deve ter pensado no assunto. Falou dos dedos pra fora.
O Brasil é um país que aprende pouco com os erros e menos ainda com os acertos. O vôlei nacional não se tornou um gigante mundial por causa da CBV. Foi – e é – apesar dela. Foi preciso que um jornalista (Luciano do Valle) e empresários unissem esforços para transformar um esporte literalmente amador num celeiro de medalhistas. Se dependesse de dirigentes, não teria havido sequer geração de bronze, quanto mais ouro e prata. O basquete feminino teve seus dias de glória quando empresas do interior paulista bancaram times com Hortência e Paula. E por que o tênis brasileiro está uma porcaria depois de Guga? Justamente porque esperam que a CBT faça o trabalho que deveria ser das pessoas. Quem confia em Confederações ou é muito desavisado, ou está levando algum delas – um famoso ex-comentarista de tênis que o diga.
Além da busca pelo mantenedor supremo, ideias estapafúrdias vêm se desenhando. Na discussão sobre Marta ganhar menos que o lateral Pará, as redes sociais trazem a solução financeira que encantará nossos tarados ideológicos: cotas. Não basta a FIFA já obrigar os clubes a terem equipes femininas. Vão querer que uma parte fixa do orçamento total seja destinada às mulheres, “garantindo” uma remuneração maior. Como se isso fosse lotar estádios. Como se os curtidores destas polêmicas soubessem em que time Marta joga e tivessem visto algum gol seu na temporada. Não bastasse a grana pelo ralo, não seria sequer juridicamente possível. A exemplo das sugestões que o finado Arena SporTV dava para o futebol masculino, incluindo a “cubanização” de impedir que atletas com menos de 21 anos deixassem o país. Sempre Cuba – mesmo afundando…
Não existe “segredo” no sucesso esportivo. Só talento e trabalho bem feito, patrocinado por quem acredita em seu futuro – e que também pode ganhar com seu futuro. O preconceito contra mulheres jogando futebol já foi superado o suficiente. Quem fica batendo nesta tecla o faz por não ter a menor noção do que vem a seguir. Claro que existem os atalhos, como no caso do handebol. Mas, quando o atalho é destruído, volta-se ao caminho de pedras e piche. Querer ajudar é ótimo. Desde que a ajuda não atrapalhe com falácias e ilusões. Sem men, women e muito menos Galvão planning.
* Colaboraram Cesar Grafietti e Danilo Mironga
O esporte, exceto futebol masculino, sempre vai sofrer com a pouca divulgação nos canais abertos. Como alguma empresa irá patrocinar se as emissoras da GLOBO não divulgam o nome das empresas patrocinantes. Saudades da Pirelli, Atlantica Boa Vista e outras empresas que tiveram seus nomes aclamados nos Estádios.