Créditos da imagem: Reprodução SPFC
Um breve apanhado sobre o time que abalou as estruturas do futebol brasileiro no meio dos anos 1980
Hoje o texto é mais um relato que uma coluna. Com o ótimo início de garotos como Antony, Igor Gomes e Toró (além da importância prévia de Liziero), é inevitável que imprensa e torcedores mais velhos remetam a 1985. Foi o ano em que um dos melhores elencos da História tricolor se firmou e ficou marcado, para as gerações vindouras, como o “time dos Menudos”. Referência óbvia – na época – ao quinteto adolescente porto-riquenho de formação rotatória (completou 16 anos, adiós) cujo auge se deu no mesmo ano, com os cinco que até os homens conheciam: Robby, Charlie, Ray, Roy e Ricky. Os Menudos do Morumbi, por sua vez, tinham vários marmanjos no meio. Mas o nome pegou.
Origem (do time, não da banda…) – após um forte começo de década, o SPFC estagnou. A “máquina” bicampeã paulista e vice-brasileira vinha de participações fracas nos campeonatos nacionais e, no estadual, de colocações enganosas. Nos dois vices contra o Corinthians, a superioridade do rival era clara. No terceiro lugar de 1984 (foram pontos corridos), perdeu gás no fim. O técnico Cilinho resolveu radicalizar e teve o apoio do então novato diretor de futebol, Juvenal Juvêncio. Em vez de contratar para 1985, queria mais é dispensar nomes e forçar a entrada de juniores desconhecidos. Há divergências especulativas sobre o grau de dispensas pretendido, mas os medalhões remanescentes foram Oscar, Dario Pereyra, Careca e Pita (contratado um ano antes). O resto foi embora.
Os escolhidos – um dos equívocos comuns de quem fala dos Menudos do SPFC é colocar Sidney e Nelsinho no mesmo bolo de estreantes. Na verdade, eles já haviam jogado em anos anteriores. Foi em 1984 que o locutor Osmar Santos apelidou o ponta-esquerda de “Michael Jackson”. Os jogadores que Cilinho lançou a granel foram, basicamente, o lateral-direito Éder Taino, o volante Vizolli, o meio-campista Silas e o atacante Müller – que participou de um jogo no fim de 1984. O lateral Éder Taino até fez o gol de uma vitória contra o Corinthians, assim como Vizolli continuou se instalando no clube pela eternidade. Mas foi o dinamismo de Silas e Müller que não apenas os levou à titularidade no clube, como os conduziu à Copa do Mundo em 1986.
Começo difícil – por conta das mudanças, o SPFC não era considerado favorito no campeonato brasileiro e isso se confirmou. Mas, a rigor, foi um torneio tão bagunçado que a última lembrança foi boa – ou quase. Mesmo eliminada, a equipe começou a render e a torcida reconheceu o crescimento dos jogadores – o que não abrangia o goleiro Tonho. No primeiro turno do Paulistão, o início instável fez a diretoria agir. Precisavam de um nome seguro no gol e foram atrás de Gilmar Rinaldi, jovem vice-campeão olímpico. Para a lateral, veio o desconhecido Zé Teodoro, que logo tomou conta da posição. A mescla deu maior equilíbrio e favoreceu os garotos restantes.
A explosão – com reforços e medalhões entrando em forma, o incipiente progresso virou sensação. Defesa segura, meio-campo técnico e ataque veloz. Assim, o São Paulo quase virou o primeiro turno e disparou no segundo. A grande atração estava na frente. Careca, de volta das eliminatórias, jogava seu melhor. A seu lado, o camisa 7 Müller desesperava a marcação porque não era ponta. Fechava para tabelas e disparava com os lançamentos de Silas e Pita. Acabou disputando a artilharia com o próprio Careca. Até hoje, ambos são escalados nos times dos sonhos tricolores, por 11 entre 10 que os viram atuando. Além de trazerem imenso desgosto futuro, quando uma criança fosse vista perguntando ao pai se Müller “era tão bom quanto Dagoberto”. Tenha dó!!!!!
A estrela e o técnico contrariado – sabem a história de plano de marketing, investidores e tal? Já tinha em 1985. No Flamengo, aproveitaram a situação legal difícil de Zico na Itália, para trazê-lo de volta – e ser atacado por uma entrada criminosa. No SPFC, a ideia recaiu num sonho antigo. Paulo Roberto Falcão vinha de uma artroscopia e passara dos 30 anos. Juvenal viu uma chance. Com um pool de empresas, o tricolor trouxe o craque. Mas havia um problema: Cilinho não estava a fim de abrir mão de Márcio Araújo, o volante que corria para o pessoal da frente brilhar. Falcão só ganhou a vaga antes das semifinais contra o Guarani. O time se desconcentrara no fim do segundo turno e, para não abrir mão de Márcio, Cilinho deixou Pita de fora. Falcão abandonaria o futebol após a Copa.
O título – seria uma lástima se, após chamar a atenção do Brasil inteiro (mesmo com os outros estaduais em andamento), o São Paulo deixasse de ser campeão paulista. Sobrou para a Portuguesa. 3 a 1 na primeira partida e um dramático 2 a 1 na volta. Sim, porque a Lusa dominou as ações após empatar (Sidney abrira o placar). Ironicamente, Cilinho preferiu manter Falcão e sua experiência, tirando Silas para recolocar Pita em campo. Foi com ele que o tricolor se recompôs e matou a disputa com Müller completando passe do “MJ”. Depois, os marmanjos se meteram em brigas e cinco foram expulsos (três são-paulinos e dois lusos). O importante é que, pois sim, os Menudos fecharam 1985 com um disco de ouro.
O efeito – com o sucesso, o São Paulo mandou meio time para os treinamentos da seleção brasileira de Telê Santana (o que complicou a vida da equipe no Paulistão). Com Sidney cortado por indisciplina, coube a Silas e Müller (este titular, tomando a posição de Casagrande e jogando ao lado de Careca) representar a juventude são-paulina no México. De volta ao Brasil, o “plano de marketing” com Falcão (de dar notoriedade internacional ao time) se resumiu a uma participação no Troféu Teresa Herrera. Já sem Cilinho, o time venceria o hecatômbico Brasileirão de 1986 – o que seria sua maior glória.
E depois? – enquanto os titulares estavam na Toca da Raposa (onde Telê preparou a seleção por meses), Cilinho tentou promover outra leva de garotos. O principal seria o atacante Manu, mas não vingou. Apenas o volante Bernardo (que tinha 20 anos, mas não era da base) se firmaria na carreira. De volta ao tricolor em 1987, o treinador tentaria de novo. Mais uma vez, sem grande sucesso. No máximo, curtos bons momentos com o meia Renatinho e os atacantes Marcelo e Paulo César. Quem? Nunca ouviu falar? Pois é…
O legado – mais que a questão da juventude, os Menudos do Morumbi (inclusos os mais velhos) representaram uma injeção de adrenalina num futebol doméstico estático. Tabelas e lançamentos (não chutões) voltaram a ocupar o imaginário de são-paulinos e torcedores de outros times. Paralelamente, outros jovens talentosos e velozes conseguiram espaços em seus times. Como o rubro-negro Bebeto e, no mesmo 1985, o vascaíno Romário. A mescla de experiência e juventude seria a receita de outros campeões dos anos seguintes. Mas a lenda, com Justiça, escolheu o esquadrão que ora encerra a coluna: Gilmar, Zé Teodoro, Oscar, Dario Pereyra e Nelsinho; Márcio Araújo, Silas e Pita (Falcão); Müller, Careca e Sidney. O time em que o futebol nunca se reprimia (rs).
Jamais me esqueci desse time!!! Não perdia um jogo sequer. Bons tempos… Mas Juvenal já estava agindo para que o SPFC viesse a ser o que é hoje.
Deixemos estar. Não há mal que dure para sempre.
VAMOS, SÃO PAULO!!!
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