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O tema é polêmico pois tem dois dos principais combustíveis que tornam qualquer embate uma verdadeira batalha: a política e a arquibancada.
Mas é necessário ser debatido porque o futebol brasileiro carece, desde já e pra já, ser repensado como um todo. E claro, passa pelo tema financeiro. Como se sabe, Flamengo e Corinthians recebem 25% de todo o dinheiro gasto pela Globo para ter a transmissão exclusiva dos jogos do Brasileirão nas tevês abertas e fechadas. Esse valor tende a aumentar nos próximos contratos. O dinheiro ganho por ambos tem relação direta com o gigantesco tamanho das duas torcidas, e como os dois clubes dão mais audiência, recebem mais. Bem mais. Pura lógica de mercado: mais retorno, mais dinheiro.
Algumas razões me fazem crer que a redistribuição desse dinheiro seria mais útil para o nosso futebol como um todo. Uma delas é a política, mas com explicações na Física: um corpo onde há desequilíbrio em um dos lados vai sofrer algum tipo de sequela. Logo, sempre que possível, sou a favor de diminuir o abismo entre ricos e pobres.
Não que eu acredite numa “espanholização”, mas não dá para descartar essa tese. Acho que não ocorrerá exatamente como na Espanha porque há características no Brasil que não permitem esse distanciamente. Uma delas diz respeito às formas de captar dinheiro, que os de lá não tem, ainda que sobre incompetência por essas bandas. A massa de gaúchos, mineiros e dos demais paulistas e cariocas é suficiente para os demais times sobreviverem e continuarem seus rumos vitoriosos. A força regional no Brasil, tanto territorial quanto econômica, não é vista em outras nações, ao menos não na Europa. O Nordeste, por exemplo, sofre com a concorrência de Corinthians e Flamengo. Mas as agremiações mais tradicionais como as de Pernambuco e da Bahia conseguem se manter graças a essa força regional.
Corinthians e Flamengo, com seus 60 milhões de torcedores, não têm o que temer com a redistribuição. Ambos possuem outros meios de se destacar financeiramente, e desses não há como fugir. O potencial de consumidores é altíssimo, incluindo aí os programas de sócio-torcedor. Ou seja, sendo minimamente competente, os dois clubes de maior torcida do país podem angariar milhões só de seus sócios, o que de certa forma compensaria a perda da fortuna global.
Outra razão, frisa-se muito relevante, é a legislação vigente. No Brasil, só é permitida a transmissão de jogos se a emissora for detentora do direito de arena dos dois times. Em outras palavras, para um canal passar um jogo, tem que ter contrato com os dois clubes que jogarão. Ou seja, diminui-se muito a possibilidade de concorrência, já que de posse das duas maiores audiência, a Rede Globo não dá chances que, por exemplo, a Record feche com o Palmeiras e passe um jogo dele contra o maior rival. Aqui, outra lógica do mercado, a da livre concorrência, não funciona tão satisfatoriamente.
A saída seria uma união dos demais 18 clubes da Série A para fechar com outro canal. Teriam seus jogos veiculados entre si, ninguém veria seus jogos contra Flamengo e Corinthians, enquanto o jogo entre eles só passaria na Globo.
E aí que entra a segunda parte título do post: essa redistribuição não irá ocorrer porque essa união não dá pinta de acontecer tão cedo. Esse individualismo é exatamente o que inviabiliza a criação de uma negociação única, como era mais ou menos na época do Clube dos 13, ardilosamente implodido pelo então presidente corinthiano Andrés Sanchez, que viu na falência do C13 a chance do Timão ganhar mais dinheiro.
Se unidos, os demais 18 clubes da primeira divisão poderiam pressionar os dois que recebem mais, afim de dividir esse bolo sem haver um desequilibrio mais à frente. Como é na liga mais bem sucedida do mundo, a Premier League inglesa, onde a metade do valor total pago pela emissora de TV é dividida igualmente entre os 20 clubes e apenas 25% é distribuído conforme a audiência. De quebra, os outros 25% ainda dão um ganho esportivo: são repartidos de acordo com a classificação do campeonato anterior, motivação extra para um clube mais pobre conseguir uma melhor posição.
Óbvio que torcedores de Corinthians e Flamengo querem seus clubes iguais ao Real Madrid e Barcelona. E disso não dá para tirar a razão deles. São torcedores, afinal, e só devem pensar como tais.
Quem não poderia pensar dessa forma são os dirigentes. Estes deveriam raciocinar na coletividade, para fortalecer o futebol que tomou de 7 a 1 em casa, para formar uma liga brasileira forte, onde a disputa acirrada elevaria o nível do espetáculo (outro ponto do “mercado”). Lá na terra das touradas, inclusive, já houve movimentação contrária a essa distribuição desigual, para que os outros clubes possam lutar de maneira mais digna contra as potências já estabelecidas: o governo simplesmente intercedeu e a distribuição se dará como na Inglaterra. Para o futebol brasileiro, então, restam essas três opções:
- À maneira inglesa, com os clubes se unindo. O que de certa forma preocupa já que houve algumas tentativas, e em todas, a emenda saiu pior que o soneto;
- À moda espanhola, com o governo interferindo. Essa certamente desagrada nossos dirigentes e, cá entre nós, gera sempre desconfiança por conta das ações claudicantes do Estado;
- E por fim, ao jeitinho brasileiro, esse que gosta de deixar tudo como está. É o sistema vigente e parece que assim continuará por algum tempo, apostando na postergação e empurrando os problemas com a barriga.
Pelo menos, até o próximo 7 a 1 em casa.
Pq nao é justo o fla sustentar times q nem o ( coxa , sport , figueirense, santos, chapecoense)
O animal, não sabe ver tabela não? Desde quando o seu timinho sustenta o Santos ? Burrice tem jeito, com estudo e interpretação de texto o animal consegue se alfabetiza mas ignorância pura é difícil de ser curada
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