Créditos da imagem: Party/Um Convidado Bem Trapalhão
O elefante que pia
Peter Sellers foi um dos maiores comediantes de todos os tempos. Antes de se consagrar no cinema americano, estrelou uma pérola inglesa chamada “O Rato Que Ruge”. Um micro-país está tão mal das finanças que só resta um caminho: declarar guerra aos Estados Unidos e ser derrotado, esperando a generosidade do Tio Sam com os vencidos. Sellers faz a rainha, o primeiro-ministro e o comandante do exército, incumbido da missão nada gloriosa. Claro que dá tudo errado e eles GANHAM. Como? Procure o filme e assista. Não dou – mais – spoiler…
Por que estou lembrando isso? Porque o São Paulo de quarta-feira tem uma oportunidade única de… perder. Não estou brincando, nem sou corintiano. Se Grand Fenwick contava com o insucesso por um caminhão de dólares, o clube da Rainha Leco, do primeiro-ministro Raí e do comandante Jardine teria uma vantagem diversa: a autodestruição de seus incompetentes. Nada de sobrevida com a “camisa entortando varal” pra mais uma ilusão de poucas semanas. Ou nem isso, porque tem jogo em Itaquera no domingo. No lugar de perder tempo com pose soberana, a turma do Twitter cairia na real em tempo recorde. Sem “Muito Além do Jardine”, “Doutor Leco Fantástico” e “Um Convidado Gerente Bem Trapalhão” – versões cinema nacional de outros sucessos do inspirador da coluna.
Em tese, era mais difícil o comandante Peter bater o exército mais poderoso do mundo, que nem sabia onde ficava Grand Fenwick (ops…). Mas aparências enganam. O roteiro não permitiria que perdesse, ou nem haveria filme. Ainda não tinham pensado num lixo realista como “Mar Aberto”. Já o roteiro tricolor não deveria admitir o triunfo do chefe de escoteiros elevado a general. Nem com promessa de Oscar. Mesmo porque, nas tragicomédias tricolores, normalmente quem se consagra é um encosto. Jucilei marcando no último minuto de barriga. Goleiro adversário frangando o pênalti de Nenê. Tudo pra que, exaltado pela “volta por cima”, o anti-herói afunde o time no final. E o pior é que o público vai embora xingando, mas volta na sequência seguinte. Ainda mais sem graça que a anterior.
“Você está sugerindo que a gente torça contra, seu (censurado)????”. Não, amigo internauta que não ajuda nas transmissões. Você não precisa torcer pro adversário. Só não tem que torcer a favor com aquela convicção toda. Torcedor também pode fazer corpo mole. Esquecer aquela superstição que tem desde aquele gol do Careca contra o Guarani. Lembrar que o SPFC nunca perde quando você vai ao Morumbi de azul, mas ir de abóbora. E por aí vai (incluindo coisas eventualmente impublicáveis sem parent control). Depois pode postar com pose de indignado, na maior cara de pau. Não que você deixará de estar indignado. Afinal, Maquiavel ficaria indignado vendo esse time jogar, com fins justificando meios e tudo. Mas, em vez daquela fossa na hora de dormir, parte de você terá o sono dos justos. Especialmente se sonhar que Leco renunciou.
Claro que seria tão simples se fosse tão simples – como diz outro colunista. No dia seguinte Leco vai estar na mesma cadeira. Raí, com sua cara de conteúdo e papo de “manuel” do dirigente moderno, vai dar alguma desculpa pra saída de Jardine – único sacrificado em nome da paz. A guerra não será vencida (ou melhor: perdida) numa só batalha. Mas uma eliminação nesta batalha significa tirar o inimigo das trincheiras. Aí, como na piada da guerra de Portugal com a Alemanha, é só sentar o gatilho nos Joaquins…
PS: também não vou contar a piada da guerra de Portugal com a Alemanha, mas deve ser mais fácil de achar no Google que o SPFC se classificar.