Créditos da imagem: Reprodução / TV Globo
Como meus leitores devem saber, também falo de futebol (?) no FOMQ, onde sou um dos moderadores. Conduzir debates não é fácil, ainda mais quando se participa deles. Certos expedientes acabam incomodando em dobro. O pior é a desonestidade intelectual, geralmente expressa por meio de cinismo e observações mais oportunistas que oportunas. Exatamente o que estamos vendo na questão do VAR. Culpa-se a máquina, como se os erros não fossem de quem a opera. As imagens, mesmo em número menor que na Copa do Mundo, bastavam para uma boa noção dos lances. Se não bastassem, seria questão de fazer o óbvio: prevalece o que se decidiu -ou não- em campo.
Mas nada é simples e prático nas mãos de incompetentes. Um carro de F1 de primeira linha, nas mãos de um navalha, vai parar no muro. Sendo que o VAR não requer nenhum Lewis Hamilton. Um piloto da extinta Minardi já consegue. As delimitações prévias foram feitas justamente para excluir os lances interpretativos. Havendo incerteza sobre se uma mão no rosto foi soco, o árbitro de campo nem deve ser chamado. Não é possível ter convicção de que o toque na área causou a queda? Idem. Mas esta norma básica e notória não vem sendo observada. Não por culpa de quem criou e regulamentou o sistema. O erro é de quem não é capaz de entender uma explicação elementar. Árbitro de vídeo não é discussão em Mesa Redonda. Pelo contrário. Se a equipe do VAR discorda entre si, segue o jogo e deixa o assunto pra turma da televisão.
Esta foi a falha presente em todas as interferências que, de forma quase unânime, foram consideradas desastrosas. Era só aplicar a página 1 do Manual e pronto. Por que não aplicaram? Posso cogitar as seguintes razões: 1 – necessidade de justificar os gastos com o sistema; 2 – medo da pressão caso não se faça presente em lances capitais; 3 – vaidade dos envolvidos, perante a chance de “se consagrar”. Porém, já que as pessoas da sala desrespeitaram a primeira premissa, o árbitro de campo não precisaria ratificar o vexame. Diferentemente do que ocorre em esportes americanos, no futebol é o árbitro de campo que dá a palavra final. Na final da Copa do Brasil, o senhor das decisões levou mais de dois minutos para ir até a tela e menos de dez segundos para ver a imagem. Tampouco se esmerou na análise de “Jadson Lee” e seu golpe (é golpe????) em Dedé.
Infere-se, assim, que erros como este e o da Bombonera aconteceram por graves falhas individuais. Em competições sem estes vícios, o VAR tem sido um sucesso de poucos contratempos. Questão de prática e também inteligência. Não é a máquina que torna o homem inteligente, e sim o inverso. Enxergar a jogada é apenas uma parte do trabalho. O caminho entre a visão e a dedução é complemento indispensável. A questão é, portanto, se o VAR tem condições de ser compreendido e corretamente utilizado pelo quadro de arbitragem local. A visão inicial é bem preocupante. Inclusive por dar combustível para que votos vencidos tentem, em seus veículos, outra série de embargos dos embargos. Arnaldos (Cézar e Ribeiro) e simpatizantes não hesitam em vestir as carapuças.
O VAR não é mais opção. É um fato consumado. Depois de ver suas benesses, a maioria não vai querer voltar aos “bons e velhos tempos”. Porém, a novidade tampouco vai resolver todas as falhas e esta nunca foi a ideia. Desde o início, o mote é corrigir o que não requer interpretação, bem como lances em que os critérios estão definidos por antecipação – como, goste-se ou não, a bola que bate no braço aberto. Nada além disso. Mas é um “isso” e tanto para quem tinha tão pouco.