Créditos da imagem: Montagem / No Ângulo
Rollo e o Pé de Feijão
Na fábula infantil, um menino gasta o dinheiro da família comprando feijões mágicos e eles realmente são mágicos, vivendo todos felizes após o garoto matar o gigante. Na vida real, todos ficam na pior, especialmente o moleque tolo. O Santos tinha uma pequena brecha da FIFA, na qual poderia contratar e registrar jogadores, graças a um empréstimo. Por conta de outra dívida, a brecha acabou nesta terça-feira. E quem o Santos trouxe nestes dias? Robinho, porque dirigentes e parte da torcida decidiram acreditar no feijão mágico. Um jogador que não atua regularmente há anos, encostado na Turquia.
Mas há algo pior: na fábula de agora, o vendedor é acusado de participação em estupro coletivo na Itália. Inclusive, foi condenado em primeira instância. Como a decisão ainda não é definitiva, o Santos acreditou ser um problema contornável. Bastaria que a imprensa amiga divulgasse a versão dos advogados de defesa. Tudo seria um complô contra o mito. No Brasil, sempre há quem caia nessa. Porém, não em número suficiente para que as empresas ignorem. Ainda mais num tema que, por si, afasta o público feminino. Não é questão, em termos de negócios, de definir se Robinho praticou a conduta que gerou a sentença. É de lidar com os efeitos da sentença perante o público, no que tange à imagem da própria empresa. Poderiam até cogitar a hipótese de fechar com o atleta, confiando em sua inocência. Mas, no mínimo, deveriam ser consultados previamente.
Não sou simpático à cultura de cancelamentos. Considero absurdo o que ocorre com o cineasta Woody Allen. Atores são forçados a pedir desculpas ou manifestar arrependimento por terem trabalhado em filmes dele. Tudo por causa de uma acusação de quase 30 anos, a qual sequer virou processo criminal, pois o juiz viu indícios de manipulação materna na palavra da suposta vítima e seu irmão. Diferente, portanto, do que se passa com Robinho. Há recurso pendente, mas as investigações avançaram a ponto de uma Ação ter sido proposta, com uma sentença condenatória. Detalhe: a vítima é estrangeira e o machismo ainda tem força na Itália. Quando mesmo assim o réu é condenado, precaver-se é imperioso. A começar por não se satisfazer com relatos dos advogados. O atleta tem que falar. E o clube tem que ouvir para decidir, sem paixões ou preconceitos, se deve acreditar.
Contudo, a gestão do Santos preferiu acreditar sem perguntar. Como nenhum patrocinador ou consumidor é obrigado a fazer o mesmo, lançou-se o clube num risco de agravar a situação que, até aqui, tem sido heroicamente suportada pelos atletas. Mais por conta de Cuca que dos dirigentes. A despeito de seus sanduíches de Subway nas montagens de times, o treinador conseguiu acrescentar forte componente psicológico que, em casos assim, vale como um esquema bem treinado. Mas força mental tem limites, principalmente se o rombo aumentar. Judicialmente, é considerável a chance de os patrocinadores obterem sentenças rescindindo os contratos. No lugar de receber, o Santos pode ter que pagar. E pagar alto. Não me surpreenderia se soubesse que nem mesmo o departamento jurídico foi consultado previamente. Medo da racionalidade.
As presepadas administrativas do Santos são lendárias e datam ainda dos tempos de Pelé. Neste contexto, o Santos pode ser considerado uma Portuguesa com mais torcida e – muito – mais sorte. No caso do meu tricolor, o destino é implacável. Não dá uma mínima folga aos golpistas de Juvenal. É quase como uma recriação bíblica dos 40 anos dos hebreus no deserto, até que todos os adoradores do bezerro de ouro morressem. No caso santista, aparecem algumas terras prometidas mesmo assim. Mas, se forçarem muito, uma hora o pai do filho pródigo se enche e o manda pastar. Com uns feijões no bolso, pra continuar a ser besta.
Nice