Créditos da imagem: Reprodução Globo Esporte
Neste domingo, o SPFC deve estrear dois laterais-direitos que, por alguns anos, enfrentaram-se em disputas marcantes na Espanha. Ambos defensores com papéis ofensivos. Um seguirá na posição que os consagrou. Outro não. Se dependesse da genialidade tática de torcedores e até de alguns jornalistas, nenhum atuaria na lateral. Seria transformar um negócio já arriscado, de contornos irresponsáveis, na burrice mais cara da década. Não parece, contudo, que Cuca ouvirá tais sugestões. Daniel Alves, a pedido do próprio, começará sua trajetória tricolor no meio-campo. Juanfran, pela primeira vez aos 34 anos, atuará como lateral numa equipe brasileira. Ambos terão que se adaptar. Assim como os outros nove.
Não é porque existe lateral-direito em todo o mundo que, necessariamente, a forma de jogar é a mesma. Ainda mais quando se fala de Brasil, onde mais se exige de um coadjuvante por natureza. Não é de admirar que até a seleção tenha dificuldade para preencher duas vagas com atletas de alto nível. Vide Zé Carlos, convocado para 1998 por conta de uma boa fase, dando calafrios na semifinal – com uma boa dose de exagero, já que o gol holandês veio pelo lado de Roberto Carlos. O grau de cobrança também se relaciona à dificuldade do meio-campo para sair jogando. Resta ao treinador usar o lateral como escape. Não raro, também tem que bancar o ponta. De quebra, precisa marcar cada vez melhor, inclusive pelo alto – o que explica o gradativo aumento na altura dos titulares. É esta a carga de requisitos que o espanhol terá que preencher.
Os otimistas com a pronta adaptação de Juanfran têm dois pontos favoráveis: 1 – ele veio de um time em que lateral tem que marcar de verdade (sem zagueiro ou volante cobrindo avanços desenfreados); 2 – seu apoio era uma das armas do Atlético de Madrid. São duas verdades, porém num determinado contexto. Primeiro, uma coisa é marcar numa equipe defensiva por vocação, em que jogadores atuam próximos entre si. Na seleção espanhola, mais aberta, Juanfran teve notórias dificuldades e não foi longe. Segundo, o apoio de um lateral espanhol é, literalmente, apoio. Diferente dos laterais brasileiros, usualmente construtores de jogadas nos rivais Barça e Real Madrid. Isso sem falar do posicionamento. Mesmo a postura defensiva de Simeone mantinha a equipe mais adiantada do que se vê no Brasil. Será inevitável que Juanfran estranhe mudanças tão tardias.
Quanto a Daniel Alves, sua presença no meio-campo foi tentada em poucas ocasiões. Nas eliminatórias de 2010, chegou a atuar no lugar de Elano como terceiro homem do setor (na época, um volante mais avançado). No PSG, em fatídica derrota para o Real Madrid, foi deslocado para o setor no segundo tempo. Foi quando os merengues viraram. Aos 36 anos, mudar definitivamente para a faixa central é um desafio inédito. Mesmo Junior, lateral-esquerdo no Flamengo e na seleção de 1982, tinha “apenas” 30 quando foi para o meio no Torino. Até a forma de correr é diferente. A visão de campo e o risco de um erro de passe também são diversos. Os otimistas do parágrafo acima dizem que, se der certo, será sensacional. Seria tão simples se fosse tão simples. E como se os adversários não fossem se aproveitar das óbvias complicações.
Para a estreia, todavia, há fatores que devem ajudar.. A superconcentração, o ambiente favorável pelo momento do time e a provável reverência do adversário (talvez beirando o deslumbramento) aumentam o doping emocional. Portanto, o são-paulino pode ir ao estádio ou ligar a TV confiante numa boa exibição de ambos. Os problemas virão depois. É quando saberemos se haverá soluções ou se Cuca terá que rever conceitos. A teoria permite vislumbrar Daniel e Juanfran atuando juntos, fazendo combinações interessantes, etc. Mas jogos – e, principalmente, campeonatos – são vencidos na prática. De parceiros, os dois podem se ver às voltas com o drama de Highlander – só pode haver um titular. A conferir.
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