Créditos da imagem: Reprodução Purepeople
A notícia é de que Neymar está fora da Copa América.
Isso me fez me lembrar algumas conclusões que ouvi e li acerca do recente episódio: Neymar saiu da pobreza; mas a pobreza não saiu de Neymar.
Primeiramente, contra a mítica construída em torno do jogador, deve-se esclarecer que ele nunca foi “pobre de marré deci”. O IBGE classificaria sua família como “classe média baixa” ou algo parecido.
Neymar não foi mais pobre que a maioria dos jogadores brasileiros – conhecidos ou desconhecidos; famosos ou esquecidos.
Por sinal, os mesmos construtores de mitos acreditam que a pobreza na infância dos jogadores tem a ver com a capacidade de “driblar” as dificuldades. Quem sabe…
De qualquer modo, Neymar não foi mais pobre do que o sorridente e generoso Cafu, um dos 6 filhos que Dona Creusa criou em um único cômodo no Jardim Irene, em São Paulo e que, em 2002 levantou a taça do pentacampeonato do Brasil.
Porém, mais importante do que a comparação com os pares é questionar a relação estabelecida: desde quando a pobreza implica, consequentemente, mau comportamento?
Desde quando pobreza de berço implica irresponsabilidade e descontrole emocional?
A julgar pelo comportamento de parte da tradicional elite brasileira que rouba dinheiro público com a mesma desfaçatez que ensina seus filhos a passar em alta velocidade pelas poças molhando os pedestres ou a jogar lixo nas calçadas;
Que ensina nas novelas que é bonito cercar-se de privilégios, ostentar e constranger os trabalhadores;
E que protege os “sinhozinhos de engenho” nos muros da “casa grande” e os pimpolhos “daquilo roxo” sob as asas da impunidade…
Eu diria que a conclusão deveria ser reformulada: “Neymar saiu da pobreza e entrou no mundo brega da elite brasileira”.
Quem dera a nossa elite tradicional pudesse entender as palavras do humanista do século XVI, Erasmo de Rotterdam:
“A modéstia cabe bem em criança, principalmente nos filhos dos nobres. A bem dizer, há de se reputar por nobre todo aquele que cultiva seu espírito com a prática das belas artes. Não falta quem faça pintar leões, águias, touros e leopardos em seus brasões, mas, só possui a verdadeira nobreza quem pode esculpir suas insígnias com tantos emblemas quantas as artes liberais que cultivou”.
(OBS: Ressalto que estou pensando sobre a cultura ou mentalidade brasileira. Não estou acusando e nem defendendo o jogador no caso específico da acusação de estupro ou agressão).