Créditos da imagem: Daily Mail
Me lembro até hoje do dia em que vi no jornal uma foto de Johan Cruyff dominando a bola, ao lado de um texto que falava do fenômeno Ajax na Europa. Isso foi há mais de 40 anos. Época em que nem se imaginava que um dia veríamos com tanta facilidade (e até algum exagero) aos jogos dos torneios europeus.
Para nós, garotos na primeira metade dos anos 70, o futebol do exterior era um mistério. Vivíamos entre a soberba de sermos os então campeões do mundo e a curiosidade de saber se haveria em outros cantos jogadores do nível de Pelé, Rivelino, Gérson, Tostão etc.
A Copa de 1974 seria a única chance naquele momento de poder ver em ação todos os melhores do mundo. Claro que já ensaiávamos o grito de tetra. Mesmo com a decisão de Pelé de não ir para a Alemanha, tínhamos a certeza de ter craques em quantidade suficiente para fazer o mundo tremer. A ponto de o técnico Zagallo ter sido curto e seco, ao ser perguntado se já havia observado a Holanda: “eles é que tem de se preocupar com o Brasil”. Não sei se foi por preocupação exclusiva com o Brasil, mas os holandeses realmente se prepararam. Derrotaram sem espaço para contestações o futebol criativo e talentoso dos sul-americanos, com 2 a 0 em cima do Brasil e Uruguai e um sonoro 4 a 0 nos argentinos.
Sob o comando de Rinus Michels e de Cruyff, Krol, Rensenbrink, Rep, Neeskens e outros excelentes jogadores mostraram que dava para jogar um bom futebol sem ser careta. Sem se prender a esquemas táticos ultrapassados. Que ainda havia espaço para criar. Que seria necessário, a partir dali, ter algo mais além de craques. Ousadia, inteligência, ocupação de espaços e determinação tática eram conceitos que tinham chegado para ficar. Meus olhos de 12 anos de idade faiscavam ao ver Cruyff e cia. Tanto que me senti um autêntico holandês depois do rápido choro ao ver o Brasil fora da final.
A final seria entre a agradabilíssima renovação holandesa e os tradicionais panzers alemães, que tinham bons jogadores, mas não muito a acrescentar ao futebol da época. A Alemanha Ocidental, aliás, causou polêmica naquela Copa ao ser acusada de “entregar” o jogo para seus patrícios orientais com o objetivo de não enfrentar Holanda e Brasil antes da final. Como já sabemos, mais uma decepção. A Alemanha foi soberba diante de um adversário perigosíssimo e em grande momento. Mas os holandeses ficaram nervosos com a arbitragem, Cruyff levou cartão no intervalo da partida, por reclamação, e Muller não perdoou, 2 a 1. Alemanha Ocidental campeã.
Não foi daquela vez que a renovação venceu. Mas tudo bem, ainda dava para tentar em 1978. Mas, inexplicavelmente, Cruyff decidiu não ir para a Argentina. Eu, que tinha me sentido abandonado quando Pelé não quis jogar a Copa de 74, sofria novo abandono antes de completar 16 anos. Mas, como o Brasil negou fogo de novo, voltei a ser holandês por alguns dias. Cláudio Coutinho, então técnico brasileiro, até que tentou parecer moderno, trazendo expressões como “ponto futuro”, “overlapping” etc. Mas montou um time sofrível, que deixou de fora craques como Falcão, Wladimir….
Por outro lado, a Holanda, mesmo sem Cruyff, ainda mantinha parte da força de quatro anos antes. Era nossa esperança. Mas, de novo, foi superada. Kempes, Ardilles, Luque & cia foram bravos, heroicos e fizeram a festa em Buenos Aires.
Nesta quinta-feira (24/3), novamente Cruyff nos abandona. Desta vez, em definitivo. Mas nunca impedirá que o carreguemos na memória. Para mim, ele foi o maior da história depois de Pelé. Parte viva da minha sina nos primeiros 20 anos de vida: torcer pelos melhores não-campeões do mundo (Holanda 74 e 78 e Brasil 82) e esperar que os mitos desistissem de desistir e nos alegrassem em duas das primeiras Copas que vi (Pelé em 74 e Cruyff em 78).
Gênio. Ponto.
Bela homenagem a um dos protagonistas da história do futebol. Simples e visionário, Johan Cruyff virou lenda. 😉
Fora a sua genialidade dentro de campo, também foi gênio na hora de dizer não à sua participação na Copa do Mundo de 1978, na Argentina, em protesto contra o regime militar ali instalado. Descanse em paz!
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Uau, que relato! Fico imaginando o contrário, como os europeus deviam temer nossos jogadores nessa época…
E sobre o Cruyff não tem muito o que dizer, né.. para muita gente é, simplesmente, o melhor jogador europeu de todos os tempos!
[…] Além disso, pelo lado do BARCELONA, teremos homenagens ao recém falecido JOHAN CRUYFF. […]