Créditos da imagem: SPFC
Confesso que sempre achei melhor para todos nunca mais falar deste assunto. Afinal, o autor da ideia mambembe estava encostado. Mas isso mudou. Este mesmo Edson Lapolla, outrora contrário à chapa golpista que ainda comanda o São Paulo, aceitou voltar ao grupo amarelo por conta de um cargo. Pior: no setor onde protagonizou a lambança. Então o silêncio acaba por aqui. Eu, Gustavo Fernandes, maior especialista no tema, revelo aos leitores são-paulinos e rivais…
DEZ COISAS QUE VOCÊ NUNCA QUIS SABER SOBRE O SÃO PAULO MADRID, PORQUE NEM SABIA DE SUA EXISTÊNCIA
1 – o projeto – divulgar a marca do São Paulo Futebol Clube na Europa através de um time da terceira divisão amadora de Madri. O São Paulo Madrid usava o uniforme tricolor, porém com a palavra Madrid escrita sobre o tradicional SPFC. Segundo matéria de Marília Ruiz na FSP, em abril de 2003, a ambição seria levar o time à terceira divisão profissional em curto período.
2 – o autor – Edson Lapolla, que fazia parte do departamento de marketing então comandado por Dorival Decosseau, médico e pai do ex-jogador e comentarista Caio Ribeiro. Diz a versão oficial que Lapolla estava passeando nos arredores da capital espanhola e, vendo a equipe amadora do Santangelo, encantou-se e topou uma parceria sugerida por Gerardo Aranda, jogador e dirigente.
3 – o campo de jogo – não há registros sobre o gramado de um colégio no bairro de Arturo Soria, onde atuava o SPM. Melhor explicando: não havia gramado. A futura sensação espanhola desfilava seus craques na areia. Vejam a foto:
4 – os ídolos – além do craque-dirigente Gerardo Aranda, suposto autor do primeiro gol, o time teve seus nomes consagrados no bairro em que atuava. Nenhum deles chegou aos pés de Juan Carlos, enaltecido pela coluna Canal 1000, de autoria deste que vos escreve, no FOMQ. Seu nome é Carlos Torres Garcia, mas provavelmente ganhou a alcunha do então soberano espanhol por causa da semelhança física. Por aqui, o Canal 1000 o intitulou como Rei da Raça e mostrava a foto abaixo em quase todas as edições.
5 – o título – os primeiros meses do São Paulo Madrid foram gloriosos. Conquistaram a incrível taça da Liga dos Sábados. A euforia foi tanta que os atletas foram convidados para vir ao Brasil, apresentando o troféu à torcida são-paulina em pleno Morumbi. Provavelmente a maior memória esportiva que os jogadores, muitos quarentões e nenhum deles profissional (o capitão e ídolo JC é expert em hotelaria), levarão desta vida.
6 – a decadência – o ápice foi seguido por resultados decepcionantes. O SPM trocou de liga amadora e nunca mais chegou perto de outra façanha. Foram goleadas constrangedoras, não raro superando os 8 gols tomados. Nem mesmo o patrocínio do Guaraná Antártica, por alguns milhares de reais, melhorou o cenário. Tampouco consta que o refrigerante conseguiu se espalhar pela Espanha com tal investimento. De todo modo, em 2008 o SPM encerrou suas atividades, queixoso do abandono que o vitimou.
7 – a “batalha da mídia” – sim, houve uma disputa inicial ferrenha para divulgar as peripécias iniciais do SPM. Enquanto o time estava ganhando na Liga dos Sábados, os sites SP.net e Tricolormania se degladiavam. Mas depois, com as derrotas, veio o desprezo midiático. Ironicamente, o único endereço que seguiu acompanhando a agonia são-paulino-madrilista foi o Fórum O Mais Querido (então desafeto dos dois sites), cujos membros sempre criticaram o projeto descompensado e fora da realidade – já estava difícil cuidar de um São Paulo, imaginem dois.
8 – outras parcerias – sob o incentivo de Lapolla, o São Paulo fez parcerias na China (SPFC Xing Ling?) e insinuou que estava estreitando laços com o Manchester United, valendo-se de jornalistas camaradas na divulgação. Nada foi adiante e não rendeu mais que uma dúzia de torcedores nestes lugares. Em todos os casos, o marketing era a própria parceria. Mas nenhuma foi tão insólita quanto o São Paulo Madrid.
9 – camisas – eram feitas pela mesma fabricante de uniformes do SPFC, mas não foram comercializadas no Brasil – muito menos na Espanha. Apenas umas poucas foram distribuídas a amigos ou vendidas numa visita do diretor Aranda ao Brasil, em tentativa de angariar fundos. Este colunista tem uma delas – infelizmente, não o número 5 da estrela Juan Carlos.
10 – nada disso é piada – aconteceu mesmo. Para sorte do clube, nem os jornalistas não-tricolores foram a fundo na história. Se fossem, teriam escancarado como o SPFC, na época conturbado e há anos sem grandes títulos (familiar?), confiava atividades estratégicas a figuras como Lapolla. Não foi por menos que este passou anos encostado e que sua candidatura contra o golpe não entusiasmou sequer os indignados. Seu retorno, fruto de mais um conchavo de Leco, faz pensar o que pode vir pela frente.
Porém, é sempre bom ser construtivo nas críticas. Se Lapolla estiver lendo esta coluna, vai uma colaboração: Juan Carlos é diretor do Hotel Piolets Soldeu Centre, em Andorra. Por que não chamá-lo para a revanche do São Paulo Madrid? Neste caso, mando também o refrão daquilo que sempre faltou ao SPM: um hino. “Hoy estamos así, en San Pablo, en Madrid, a jugar, a luchar, a ganar, y ganar, y ganar”…
Saudoso SPM, a semente do glorioso SPV. Meretissimo Gustavo Fernandes, eu tenho 2 raríssimas camisas do SPM também. Fomos juntos retirar ou não?
Não. Só você teve a honra de conhecer pessoalmente um representante do SPM. Como o invejei…
Você encomendou por mim e teve o privilégio de falar com o representante do SPM ao vivo. Que inveja…
Nossa Gustavo Fernandes, que coisa mais constrangedora!
E não vai me dizer que essas despesas com vinda de jogadores amadores da Espanha para cá -em uma época nada gloriosa do clube- era paga pelo São Paulo Futebol Clube! Era??? 😮
Imagino que a viagem foi paga pelo clube, sim. No máximo, o Rei da Raça Juan Carlos pode ter ajudado, pesquisando um hotel barato com sua experiência no ramo…
PARECE PIADA!
Antes fosse. Nós dávamos enfoque cômico ao assunto, mas eles levavam a sério.
Gustavo, você como grande apreciador do SPM, comprou esta camisa para colaborar com o projeto?
Chegou um ponto em que os críticos se tornaram os últimos a abandoná-lo, já que os bajuladores deram no pé logo nos primeiros vexames. Então a compra também foi uma forcinha pra não perder o assunto (rs).
Caraca! 😀
[…] Começando pelo meu time, o campeão da boa vontade foi o zagueiro Lucão. Limitadíssimo, seja com a bola no pé ou correndo atrás dela, foi considerado revelação sem sequer cinco partidas convincentes. De quebra, algumas das piores atuações foram contra o Corinthians – incluindo um 6 a 1, em Itaquera. Mas continuou sendo sucessivamente “reabilitado” até parar no Estoril, onde tem ajudado o novo clube a perder todas as partidas disputadas. Emblemático como ele, só que ainda mais prestigiado, é o volante Márcio Araújo no Flamengo. A justificativa usual é que o torcedor não entende sua “importância tática”. O que não se entende, pois sim, é por que o clube não procura um volante com a tal importância tática, mas que pratique o esporte para o qual é pago. E o que dizer de Egídio, do Palmeiras? Como exigir compreensão com quem falhou em todas as ocasiões críticas da temporada? Isso não seria profissionalismo nem no São Paulo Madrid. […]