Sei que perdi o timing desta postagem, mas nos últimos dias estive tentando absorver o evento histórico que presenciei no Mineirão – a maior goleada sofrida pela Seleção Brasileira em sua centenária história – e analisando a repercussão e as consequências.
Muita gente me pergunta qual era a sensação no estádio e a reação do público. Posso dizer que a torcida estava muito animada no pré-jogo, e enquanto houve uma partida real (até o segundo gol da Alemanha, aos 22 minutos), foi muito participativa e se mostrava sabedora de que teria que ser parceira para que a vitória fosse conquistada. Os rostos totalmente esperançosos na vitória foram substituídos pela expressão de “Xi, vai ser difícil” após o primeiro gol alemão, deram lugar a “É, acho que acabou” no segundo, e à mais variada exposição de bocas abertas, balançares de cabeça e caras de choque que já vi na vida. Poucos demonstravam tristeza ou chegavam às lagrimas, tantos quanto os que debochavam ou se indignavam com aquele massacre. O ambiente geral tornou-se de incredulidade e passividade. Com o gol de honra (se é que essa palavra possa ser mencionada em qualquer coisa relacionada ao jogo pelo lado brasileiro) de Oscar, houve alguma vibração e apoio real, do tipo “Ufa, desencantou! Fomos capazes de fazer ao menos cócegas!”.
Vi pouca gente sair do estádio, e pelo meu sentimento (confirmado depois por outras pessoas), a explicação é simples: aquilo não era uma simples eliminação. Era provavelmente a partida mais louca da história do futebol, diante de nossos olhos, e havia a apreensão de até onde aquilo iria chegar. Como sair no intervalo, com 5 a 0 para a Alemanha, e se desligar do quão terrível ainda poderia ser o segundo tempo? Nesta semana o Luciano Huck foi muito criticado por ter comparado a eliminação do Brasil aos Atentados de 11 de Setembro, o que eu acho totalmente merecido visto que foi feita como exemplo de superação. Mas, sem qualquer comparação quanto à gravidade dos eventos, a sensação que eu tive no jogo só é comparável à que eu tive ao ver pela TV, ao vivo, o que acontecia naquele 11 de Setembro: a principal potência mundial totalmente fragilizada, seus símbolos eram destroçados e, em dado momento, parecia não haver limite (no atentado, primeiro caiu uma das Torres Gêmeas, depois a outra, e ainda surgiam as informações do ataque ao Pentágono numa progressão assustadora).
O setor com mais alemães no estádio ficou cantando sem parar. Já a saída do estádio tinha não apenas o compreensível silêncio da torcida brasileira, mas também o dos alemães e demais estrangeiros, que quase não falavam. Os brasileiros pareciam sem reação e envergonhados diante do atropelamento, num clima de resignação e ressaca generalizada, enquanto os alemães tampouco entendiam o que tinha acontecido, mas continham a euforia numa postura respeitosa e solidária.
Hoje, concordo que houve uma divisão de foco com a lesão do Neymar, mas a identifico tanto na Seleção quanto na torcida e toda sociedade brasileira. Era o time todo com boné desejando força ao Neymar, o capitão e o mais experiente do time dividindo a tarefa de segurar a camiseta do craque no Hino Nacional, presidente da República fazendo o “É tois”, agências de publicidade distribuindo máscaras do menino de ouro do Brasil com a hashtag #somostodosneymar, torcida gritando o nome craque, etc. E não, não estou culpando ninguém, é apenas uma constatação. Como brilhantemente disse José Trajano no Linha de Passe após a contusão do Neymar, “Era hora de chorar o morto”. Não dava pra passar incólume por isso, dentro ou fora de campo.
Para finalizar meus relatos de dentro do estádio, enquanto houve disputa, jamais suspeitei de que qualquer coisa sequer próxima do ocorrido pudesse acontecer, o que me faz entender a conveniente “Teoria da Pane” adotada pela antiga comissão técnica da Seleção. Ao contrário do que nosso colunista Fernando Prado contou sobre Santos 0 x 4 Barcelona – final do Mundial de 2011 – no qual “com 3 minutos de jogo já era sabido que o Barcelona venceria” tamanha a diferença de excelência do futebol evidenciada entre os times em campo, isso não ocorreu na semifinal da Copa. Confirmei a minha impressão ao assistir o VT, com algumas ressalvas que serão tema de um próximo texto.
[…] o privilégio (sem ironia) de estar lá. Inclusive, escrevi um depoimento ainda antes do lançamento do site, só para não deixar o tempo levar minhas memórias da época. […]
putz!
rsrsrs…
Já sei que foi o pé frio… kkk
E nem assim demitiram os cartolas que levaram – e continuam levando – o futebol a esse vexa,e. Esse e outros